“REN sem posição do Estado e controlada por empresa estatal chinesa é caso único na Europa”
A State Grid Corporation of China, o colosso estatal do regime chinês, a maior empresa de serviços do mundo, controla 25 por cento da Redes Eléctricas Nacionais (REN). O Estado português não tem participação na empresa desde 2012, quando a vendeu precisamente aos chineses da State Grid e à Oman Oil, esta a segunda maior petrolífera do mundo, controlada a 100 por cento pelo Estado de Omã.
“Não conheço nenhum país da Europa que não tenha participação do Estado na sua rede eléctrica nacional”, diz o ex-ministro Mira Amaral ao Objectivo.
“Também não conheço nenhum caso onde uma empresa chinesa, ainda por cima estatal, tenha participação na rede eléctrica”, acrescenta.
“Há a agravante de também a EDP ser controlada pelo Estado chinês através da Cinha Theere Gorges, que detém 19,3 da Enegias de Portugal. Quando fui ministro sempre tive a preocupação em separar a REN da EDP”, adianta.
José Pedro Teixeira Fernandes, professor universitário e especialista em assuntos de energia, também considera que a estrutura acionista da State Grid levanta questões sensíveis.
“Em primeiro lugar por a REN ser uma infraestrutura crítica, em segundo lugar por ser controlada por uma empresa estatal chinesa, em terceiro lugar por uma questão geoestratégica”.
“Num cenário de conflito entre os EUA e a China, Portugal fica numa posição frágil e incómoda por ter empresas chinesas estatais em sectores estratégicos como a REN”, acrescenta.
Recorde-se que em princípios de 2019, o governo de António Cosa ensaiou o retorno à participação do Estado na REN, pressionado pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, mas o projecto não foi para a frente.