Quem não é do Benfica não é bom chefe de família.
Há menos de dez meses mais de 500 ilustres portugueses, de todas as áreas, fizeram parte da Comissão de Honra da candidatura de Luís Filipe Vieira às eleições do Benfica, entre os quais o primeiro-ministro António Costa e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina.
Há suspeitas sobre negócios escuros sobre Vieira há quase vinte anos, mas fecharam os olhos.
Era o sexto mandato de Vieira no Benfica, o que fazia dele um dinossauro inconcebível, com vinte de anos liderança do Benfica, mas os 500 da Comissão de Honra acharam que não era demais.
Com o caso Vieira, estamos sempre na mesma linha de José Sócrates, Ricardo Salgado, Isabel dos Santos, Joe Berardo, que também tiveram as suas Comissões de Honra.
Durante anos foram todos amigalhaços. Mil variedades de benefícios à mão, políticos e económicos, falaram mais alto. Em Portugal, o que se quer é rancho há longo tempo.
No caso de Vieira e do Benfica, junta-se a irracionalidade do futebol e a clubite de um emblema que se confunde com a nação. Até Salazar, que não percebia de futebol, nem de fado, nem do mundo, e tinha aversão a aviões, à Coca-Cola e a americanos, não deixou Eusébio sair para jogar no estrangeiro porque fazia parte do Património nacional.
Quiseram fechar os olhos. Afinal, quem não é do Benfica não é bom chefe de família.
Hoje com Vieira arguido e preso, repete-se aquilo que já se fez com Sócrates, Salgado, Isabel dos Santos, Berardo quando caíram em desgraça.
Mostrar choque e espanto.
Passa-se de um pólo a outro. Tanto pode ser bipolaridade como simplesmente surfar a onda e ver o interesse do momento.
Aconteceu o mesmo no tempo de Marcelo Caetano. Aplaudido um mês antes no estádio de Alvalade, num derby Sporting-Benfica, o Presidente do Conselho saiu escorraçado do Largo do Carmo a 25 de Abril de 1974, a levar murros no metal da chaimite.