António Costa nunca gostou de Otelo
O governo de António Costa não decretou luto nacional por Otelo.
O primeiro-ministro tornou-se um jovem militante socialista com apenas 14 anos de idade, em 1975.
Não andou pelo MRPP, nem pela UDP, nem pela LCI.
Muito menos pelo PRP-BR ou pelos GDUP’s
Não foi maoísta, nem estalinista.
Não apoiou Otelo nas presidenciais de 1976.
Enquanto alguns socialistas andavam a gritar Otelo no Terreiro do Paço e a viajar no Comboio Vermelho, de Lisboa ao Porto, o jovem Costa sonhava com a grandiosa manifestação na Fonte Luminosa e as vitórias eleitorais esmagadoras do PS nas eleições constituintes e legislativas de 25 de Abril de 1975 e 1976.
Enquanto Jorge Sampaio e Augusto Santos Silva votaram Otelo nas presidenciais de 1976, o jovem Costa apoiava o candidato do PS a Belém: Ramalho Eanes.
Há, aliás, uma história muito curiosa entre Jorge Sampaio e António Costa por causa de Otelo, contada pelo jornalista João Gabriel no livro “Confidencial – A Década de Sampaio em Belém”.
Na campanha para as presidenciais de 1996, o candidato Jorge Sampaio deu uma entrevista ao jornal Semanário em que revelou ter votado Otelo nas presidenciais de 1976. António Costa, que era o director de campanha, ficou boquiaberto e disse a Sampaio: “Bastava ter dito que já não se lembrava, porque teve de dizer aquilo?”.
Jorge Sampaio respondeu: “- Porque era verdade! Cheguei até aqui sendo o que sou, não vou mudar”.
A campanha de Cavaco Silva, o adversário de Sampaio nas presidenciais, tentou tirar partido desta confissão mas nessa altura o país já tinha uma forte maioria sociológica de esquerda (que já vinha do 25 de abril e se mantém até hoje) e Sampaio ganhou por uma margem folgada. Apesar de Otelo? Ou porque votou Otelo?