Vem aí o Bloco Central
Não é previsível que o PS de António Costa tenha maioria absoluta nas próximas legislativas antecipadas.
Nem sequer é previsível que António Costa ganhe as eleições, ele que assumiu a derrota pessoal e política da rejeição do OE 2022 por parte do BE e do PCP.
Também não é previsível que o PSD de Rui Rio ou de Paulo Rangel consigam maioria absoluta.
Por sua vez, é impossível o PS constituir uma nova geringonça ou governar apoiado num dos seus pés, o BE ou o PCP, face ao divórcio litigioso na geringonça.
Também não é previsível que PSD e CDS consigam uma maioria para governar. Nem Chicão nem Nuno Melo têm qualidades para oferecer um bom resultado aos centristas.
Também não é previsível que PSD e CDS se coliguem ou aceitem formar governo com o apoio do Chega, o que seria, para além de uma aliança com um partido grotesco, uma nova forma de geringonça à direita, igualmente instável.
O que resta? A formação de um governo de Bloco Central, repetindo a fórmula de 1983, quando o líder do PS, Mário Soares, e o líder do PSD, Carlos Mota Pinto fizeram uma coligação pós eleitoral, unindo os seus votos (36,11% do PS e 27,24% do PSD)
Também em 1983, o governo da AD, chefiado por Pinto Balsemão, caiu em virtude de um parceiro de coligação, o CDS de Freitas do Amaral, lhe ter tirado o tapete.
Também em 1983, o governo do Bloco Central foi um um executivo de emergência nacional que pediu a intervenção do FMI no país em virtude da crise económica e social, um cenário que pode bem repetir-se em…2022.
Na verdade, o país está hoje mais preso por arames que nunca. Tem uma monumental dívida pública, vive de impostos e ajudas europeias, não produz, há mil redes clientelares no Estado. Também o sector privado está sequestrado por corporações que prosseguem o interesse próprio e esqueceram a razão que esteve na origem da sua criação por lei da República, com o estatuto de associações de interesse público. Nem Salazar conseguiu criar este Estado corporativo gigante. Por sua vez, as PME vivem asfixiadas com o aumento dos impostos e o aumento do salário mínimo (as multinacionais vivem bem com o aumento do SMN mas não as PME).
Três ou quatro meses de impasse governamental e inação política, até à realização de eleições antecipadas, não ajudam a situação.
Em 2022, há uma agravante que não existiu em 1983: uma crise de saúde pública. Portugal, tal como o resto do mundo, vêm de dois anos de Pandemia Covid-19, que hoje ainda não está debelada. O Inverno aproxima-se (começa a 21 de Dezembro), período que em 2021 teve um pico de Covid, face às temperaturas frias de janeiro. As eleições legislativas antecipadas deverão ocorrer, aliás, em janeiro, um dos meses habitualmente mais agrestes do calendário. Para já, chegam fortes chuvas os próximos dias, avisam os serviços metereológicos. A vida portuguesa não vai ser fácil.