Bush: “Foi um telefonema amigo o de Putin, foi a única chamada que recebi deste género”
O ex-presidente dos EUA George W. Bush enganou-se na semana passada a condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia de Vladimir Putin, trocando Ucrânia por… Iraque.
“A decisão de um homem [Vladimir Putin] de lançar uma invasão totalmente injustificada e brutal ao Iraque”, disse Bush. “Quero dizer, à Ucrânia”, emendou.
O que fez rir mais a plateia no Instituto George W. Bush, em Dallas, onde o ex-presidente norte-americano discursava, foram as palavras seguintes: “O Iraque também… De qualquer forma, são 75”, adiantou, numa referência à sua idade.
Há um episódio antigo que pode explicar este lapso de Bush. Em 24 de Março de 2003, quatro dias após a invasão do Iraque pelos EUA, Bush recebeu um telefonema do seu homólogo russo, Vladimir Putin, preocupado com o seu amigo [A amizade entre os dois começara logo após o 11 de Setembro de 2001, quando Putin foi dos primeiros chefes de Estado a lamentar o atentado terrorista contra as Torres Gémeas e mais tarde comungaram interesse por uma medalhinha com a imagem da Virgem Maria que Putin usava ao peito].
Bush ficou muito sensibilizado com Putin: “Foi um telefonema amigo . E apreciei isso . E acrescentou – Foi a única chamada que recebi desse género , é bom que se diga”, relatou o presidente norte-americano mais tarde.
Quem conta o é Bob Woodward no seu livro “Plano de Ataque” (editora Difel, Lisboa 2004), um dos jornalistas que denunciou o caso Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon.
O Objectivo publica este trecho do livro.
“Na segunda-feira de manhã , dia 24 de março, Putin telefonou a Bush – Isto vai ser muito difícil para ti – advertiu o presidente russo . Sinto pena de ti. Sinto pena.
Porquê? – perguntou Bush . – porque vai haver um enorme sofrimento humano – respondeu Putin.
– Não, replicou Bush – , nós temos um plano [0 plano de Bush era não causar ou evitar ao máximo danos colaterais civis]
Mas agradeço a tua preocupação . Enquanto falavam , Bush percebeu que Putin , ele próprio envolvido numa guerra sangrenta com os rebeldes tchetchenos , estava a exprimir preocupação com as consequências pessoais que recairiam sobre ele .
– Bem, obrigado por teres telefonado – disse por fim Bush – foi muito amável da tua parte.
Mais tarde [Bush] recordou: foi um telefonema genuíno . Não foi um ‘eu bem te disse’. Foi um telefonema amigo. E apreciei isso. E acrescentou – foi a única chamada que recebi desse género , é bom que se diga”.
Esta conversa entre George W. Bush e Vladimir Putin é também muito relevante da psicologia do presidente russo perante uma invasão de um país estrangeiro, das suas consequências trágicas em mortes e feridos civis e danos profundos na imagem do agressor, como acontece hoje, ironicamente, a Putin, perante a condenação veemente do Ocidente à invasão que ordenou da Ucrânia em 24 de Fevereiro de 2022.
É caso para dizer, Bush e Putin, dois amigos unidos pelo Iraque e pela Ucrânia.