“Unidades militares em que o PCP tinha força opuseram-se aos radicais de esquerda no 25 de Novembro de 1975″
Numa altura em que o PCP é muito atacado em Portugal por referir que a guerra na Ucrânia é também da responsabilidade da NATO, dos EUA e da União Europeia tornou-se um tema político candente o papel dos comunistas na democracia portuguesa e no seu acto fundador: o 25 de Novembro de 1975.
No último aniversário do 25 de Abril, o historiador António Costa Pinto disse ao jornal Público que “o 25 de novembro, não foi, ao contrário da memória oficial do centro-direita e até da memória do passado do Partido Socialista, uma tentativa do Partido Comunista Português tomar o poder”.
O Objectivo falou com António Costa Pinto sobre estas declarações ao Público.
“As forças moderadas que venceram no 25 de Novembro de 1975 criaram uma narrativa para afirmarem a sua legitimidade”, mas a História tem ainda muito para investigar sobre o 25 de Novembro.
“Uma investigação que continua omissa sobre o 25 de Novembro de 1975 é a relação entre o PCP e a sua direção e o gonçalvismo”, diz o historiador, aludindo ao facto de o PCP ter perdido o controlo de facções mais populistas de esquerda.
“Houve unidades militares que fizeram o golpe no 25 de Novembro de 1975 que não eram conotadas com o PCP mas com a esquerda mais radical, como a Polícia Militar”, refere o historiador.
“Foram, aliás, unidades em que o PCP tinha bastante força, como a Armada, que se opuseram às forças mais radicais da esquerda”, ao lado das forças militares moderadas, lideradas pelo general Ramalho Eanes, vitoriosas no 25 de Novembro.
O Objectivo publicou em Outubro passado um artigo sobre um comunicado da CGTP, datado de 26 de Novembro de 1975 em que esta organização, conotada com o PCP mas na altura com alas de partidos da extrema esquerda, como a UDP, lamenta a vitória dos militares moderados no 25 de Novembro e pede a mobilização da “classe operária, camponesa, soldados e marinheiros”, um slogan político que, na altura, era mais utilizado pelas forças radicais de esquerda e não pelo PCP. Terá sido este comunicado da CGTP fruto das contradições sobre o rumo da revolução entre o PCP e o gonçalvismo?
O Objectivo recorda o comunicado da CGTP de 26 de Novembro de 1975:
“O país vive horas extremamente graves, cujas causas, no essencial, se inserem na ofensiva contra-revolucionária das forças de direita, nomeadamente através de saneamentos contra militares revolucionários e nas tentativas de desmantelamento de unidades militares com provas dadas ao serviço dos anseios das massas trabalhadoras e do avanço da Revolução.
Mais uma vez a classe operária e o povo trabalhador responde de forma corajosa a toda esta ofensiva e demonstra não ser possível desprezar a sua combatividade e firmeza revolucionárias.
A situação político-militar não está clarificada e a sua evolução está estranhamente ligada à vigilância das massas trabalhadoras nos seus locais de trabalho e no reforço da sua unidade e organização na luta pela defesa das conquistas alcançadas.
Os últimos acontecimentos políticos não devem impedir que a classe operária, camponesa, soldados e marinheiros, massas populares em geral, continuem a lutar contra o fascismo, pelo avanço da Reforma Agrária, pela defesa das nacionalizações, contra os saneamentos à esquerda, pela formação de um governo ao serviço das massas populares.
O Secretariado da Intersindical Nacional considera fundamental que as massas trabalhadoras não desmobilizem na sua luta pela defesa das conquistas alcançadas, que redobrem as iniciativas tendentes ao esclarecimento da situação político-militar, que reforcem e defendam a sua organização de classe e que se mantenham firmemente vigilantes contra todo o tipo de manobras provocatórias”.