Albright: uma pomba que foi falcão por um dia
A ex-secretária de Estado do presidente Bill Clinton entre 1997 e 2001, Madeleine Albright, tem colada a imagem de um autêntico falcão por causa de uma simples frase assassina.
Ainda hoje, nas publicações e nos artigos de opinião da esquerda mais anti-americana, Albright é atacada sem piedade.
Em 1996, quando era embaixadora na ONU, questionada pela jornalista do programa da CBS 60 minutos, Lesley Stahl, sobre se as sanções ao Iraque justificavam a morte de 500 mil crianças iraquianas por falta de medicamentos, tal como se pensava verificar-se no Iraque do então presidente Saddam Hussein, Albright respondeu: “Essa é uma escolha muito difícil, mas o preço – pensamos que o preço se justifica”.
Albright arrependeu-se muito desta frase, ainda mais inexplicável porque a ex-secretária de Estado sempre foi uma política moderada. Foi mesmo uma das vozes mais contundentes contra a invasão do Iraque pelos EUA, liderados por George W. Bush, chegando a dizer que a invasão do Iraque foi “um dos maiores desastres da política externa norte-americana”.
No seu livro “Os Poderosos e o Todo Poderoso” (editora Difel, Lisboa, 2006). Albright explica como foi cruel e reconhece a sua culpa.
A ex-secretária de Estado norte-americana escreve: “Um repórter perguntara-me se a manutenção das sanções era suficientemente importante para justificar as muitas mortes de crianças iraquianas que, alegava-se, daí resultavam. Eu hesitei, e depois respondi: ‘Essa é uma escolha muito difícil, mas o preço – pensamos que o preço se justifica’. Eu devia ter dito: ‘Claro que não – e é precisamente por isso que estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos assegurarmos de que o Iraque tem dinheiro para comprar medicamentos e bens alimentares’. Mas porque a minha voz foi mais rápida do que a minha mente, a imagem que transmiti foi a de uma mulher cruel e de sangue-frio. Outros que julguem, baseados em toda a minha carreira, se aqueles epítetos me devem ser atribuídos. Reconheço a minha culpa, contudo, por aquela paralisação cerebral temporária e pela terrível escolha de palavras”.
Madeleine Albright faleceu este ano, aos 84 anos de idade.