O comandante Bligh
Ficaram no porto do Funchal horas fechados na fragata “Mondego”, impedidos de sair, e chegaram a Lisboa de avião com o estigma de amotinados.
O chefe de Estado maior da Armada, Almirante Gouveia e Melo, lembrou a revolta na Bounty, a mítica insurreição contra um tirânico capitão de navio no século XVIII, William Bligh, para apelidar os marinheiros do “Mondego”.
Que crime cometeram os marinheiros? Recusaram-se a cumprir uma missão de escolta de um navio russo, alegando falta de condições mecânicas na fragata.
Gouveia e Melo apelidou-os logo de insubordinados, sujeitos a processo disciplinar e pena de expulsão da Marinha.
Para o advogado dos marinheiros tratou-se de desobedecer justificadamente a uma ordem em face do perigo da missão face às deficientes condições operacionais do navio.
A Inspeccão da Marinha já concluiu que a fragata estava em condições mas há que aguardar, naturalmente, uma peritagem independente.
Onde não há volta a dar é no ferrete que Gouveia e Melo colou de imediato aos marinheiros, nem sequer esperando pelas conclusões da inspecção da marinha.
O que lembra isto? A humilhação que Salazar fez aos militares na invasão de Goa pela União Indiana em 1961, quando para ganhar tempo para a diplomacia, hipótese impossível, enviou ao comando militar português a seguinte mensagem: “não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”.
Centenas de militares também chegaram de Goa estigmatizados a Lisboa e foram enviados para os seus quartéis, julgados em tribunal militar e muitos expulsos do exército, como o comandante das forças, general Vassalo e Silva.
Só foram reabilitados e reintegrados no exército após o 25 de Abril?
No caso do Mondego como será? Gouveia e Melo será forçado a demitir-se?