Costa acha que saiu por cima mas engalambou-se
Não há diferença entre o forró Henrique Chaves- Santana Lopes que levou à dissolução do Parlamento em 2004 e o de João Galamba- António Costa em 2023. Marcelo Rebelo de Sousa deve dissolver a Assembleia da República …
Até o egocentrismo de João Galamba é semelhante ao de Henrique Chaves. Este, acicatado pela família e pelos amigos, considerou uma despromoção ter passado de ministro adjunto a ministro do Desporto e demitiu-se um dia após ter tomado posse do novo cargo. Levou Santana Lopes à frente, dando-lhe a estocada final.
Galamba, já desgastado e sem perfil quando se tornou ministro das Infraestrutura, não quis ser o cordeiro da Páscoa (época ainda recente) após o caso Frederico Pinheiro e demitiu-se com estrondo. Costa, sempre jogador, não aceitou a demissão. Foi pior a emenda que o soneto. Era difícil aceitar a demissão e escolher o terceiro ministro da pasta (estratégica) em dois anos mas tudo era melhor que amparar um ministro e político em forma de cadáver político (como aconteceu a Eduardo Cabrita).
Tese nº 1: É possível que Costa não tenha conseguido resistir a mais esta habilidade, que foi a de dar uma golpada ao golpista Galamba que o quis entalar. Como a fábula do sapo e do escorpião a natureza deste é mais forte que o seu interesse.
Tese nº 2: Marcelo tinha pedido a cabeça de Galamba. Este entregou-lha e Costa a seguir fez a Ressureição do Galamba para atacar e memorizar Marcelo. Pode ter sido assim mas o resultado é o mesmo: o pântano.
Na prática, Costa engalambou-se. Marcelo, sempre perspicaz, correu a dizer que discorda da não aceitação da demissão de Galamba porque não é o sentir do país. E tem razão. O governo de Costa já leva muito tempo de tempestade, com sucessivos casos e escândalos, e o desgaste Galamba, seguido do forró demissão, foi a estocada final para o divórcio com os portugueses. Santana Lopes viveu tempestades idênticas até chegar, exausto e perdido, à demissão tóxica de Henrique Chaves.
Tal como na esperança de vida das pessoas, os governos têm um limite de tempo, mesmo com maiorias absolutas e até muito expressivas, como aconteceu na crise do governo Cavaco Silva em 1994, após três anos antes ter tido a maior maioria absoluta de sempre da democracia portuguesa com 52 por cento de votos.