Quando a Intersindical comunista marcou uma manifestação contra as greves
Nas primeiras semana a seguir ao 25 de Abril de 1974, existiu uma onda de greves em vários sectores, nos CTT, na Lisnave, na EPAL, e em dezenas de pequenas fábricas.
São greves decretadas por comissões de trabalhadores, fora do controlo da Intersindical, central criada em 1970, próxima do PCP.
O PCP e a Intersindical consideravam estas greves como “aventureiristas”, que acabavam por fazer o jogo da direita. Ainda que o posicionamento político fosse muito diferente, PCP e Intersindical tinham, assim, uma convergência com o I Governo Provisório de conotação liberal liderado por Adelino da Palma Carlos e Sá Carneiro como nº 2. Este executivo, nomeado pelo general de Spínola, o seu mentor, também era contra a onda grevista por prejudicar a economia e chegou a pugnar pela declaração do estado de sítio para colocar o país na ordem.
O I Governo Provisório tinha, porém, na pasta do Trabalho Avelino Gonçalves, um ministro comunista. Spínola e Palma Carlos defendiam que se tinham que dar funções aos comunistas em sectores que eles controlavam, para os responsabilizar.
Este período é recordado no livro “Portugal depois de Abril”, da autoria de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, Editora Intervoz, 1976.
Os autores recordam que a Intersindical chegou a realizar em 1 de Junho de 1974 uma manifestação contra as greves.
O Objectivo publica um extracto desta obra: “Todas estas greves escapam ao controlo dos sindicatos e nascem espontaneamente dos trabalhadores, geralmente coordenadas pelas comissões de fábrica. A Intersindical combate as comissões autónomas dos trabalhadores que não controla e opõe-se mesmo às paralisações de trabalho e às ocupações. Maioritariamente enquadrada por sindicalistas do PC, a Intersindical segue a táctica deste partido, que tudo fazia para evitar as consequências de uma crise económica, embora apregoasse o direito à greve, como arma última dos trabalhadores, e acusasse os monopólios de exploração desenfreada e de sabotagem económica.
A Intersindical chegou mesmo a promover em 1 de Junho [de 1974] uma manifestação em Lisboa contra a onda grevista. Nela discursou o ministro do Trabalho, Avelino Gonçalves, militante do PC, o qual elogiou a organização sindical controlada pelo seu partido: segundo dizia o ministro, ela estaria ‘traçando, com exemplar maturidade, uma linha de acção sindical realista, contra o oportunismo e o aventureirismo que conduziria ao caos e à divisão das forças democráticas”.