Rádio Renascença proibiu notícias da chegada de Mário Soares e Álvaro Cunhal a Lisboa após o 25 de Abril
A Rádio Renascença (RR), propriedade da Igreja Católica, serviu de palco a uma senha do MFA no 25 de Abril de 1974 mas não se deixou embalar pela revolução.
Segundo o investigador Nelson Costa Ribeiro, quando Mário Soares e Álvaro chegaram a Lisboa no final de Abril vindos do exílio, o primeiro em França e o segundo na URSS, a RR teve o primeiro embate com a revolução e os trabalhadores entraram mesmo em greve, tornando a RR o primeiro órgão de informação a fazer esta manifestação de luta após o 25 de Abril
“Na base da greve estava uma profunda divergência de critérios entre os noticiaristas e o Conselho de Gerência, a propósito da cobertura das chegadas a Lisboa de Mário Soares e Álvaro Cunhal. Outra atitude que contribuiu para esta tomada de posição por parte dos funcionários do sector da informação foi o facto dos gerentes terem colocado a hipótese de despedir um noticiarista por este ter incluído, num noticiário, um telex da agência Nova China”, refere Luís Ribeiro num artigo publicado na revista da Universidade Católica Lusitania Sacra (2ª Série, nº 12, Ano 2000)
O investigador diz, porém, que há relatos divergentes sobre o caso da chegada de Mário Sores e Álvaro Cunhal a Portugal.
“Os depoimentos por nós recolhidos são divergentes no que se refere às verdadeiras motivações da greve. Albérico Fernandes, na altura Coordenador de Produção, afirma que, tal como havia sucedido aquando da chegada de Mário Soares a Lisboa, a Gerência não admitiu que fosse efectuada reportagem em directo sobre o regresso de Álvaro Cunhal, mas nunca colocou em causa a transmissão de uma peça sobre a chegada do líder comunista. Esta versão é também partilhada por D. Manuel de Almeida Trindade, para quem a origem do problema estava no facto da administração se ter oposto à realização da “reportagem directa da chegada de Mário Soares e de Álvaro Cunhal”. (Manuel de Almeida Trindade, Bispo de Aveiro, Memórias de um Bispo, Coimbra, Gráfica de Coimbra, 1993, p. 319). João Alferes Gonçalves, na altura chefe do serviço de noticiário da RR, tem uma memória diferente dos acontecimentos, afirmando que se dirigiu ao aeroporto de Lisboa, para acompanhar a chegada de Álvaro Cunhal, por sua livre iniciativa. Isto porque, tal como havia acontecido aquando da chegada de Mário Soares, a reportagem simplesmente não foi autorizada. (Cf. Depoimento de João Alferes Gonçalves, em 18 Junho 1999)”, refere Nelson Ribeiro.