Um país complicado
Há muitos entraves e burocracia em Portugal que alimentam corporações especialistas em contorná-las, como consultores jurídicos e advogados, muitas vezes pondo o pé na ilegalidade, e a função de um governo é acabar com elas desde que seja esse o interesse público.
Num país como Portugal, onde há mil corporações, mil coutadas de interesses, levar um governo a executar políticas que afrontem esta miríade de interesses baseadas exclusivamente no interesse público é muito difícil mas não é impossível.
Há que começar no próprio Estado, governando com leis úteis mas não um emaranhado de legislação parece que propositadamente criado, na Assembleia da República e no Governo, para ser contornado, ou com os alçapões da lei ou através do tráfico de influências, como ao que tudo indica fizeram Lacerda Machado e João Galamba, favorecendo a Start Campus no caso Influencer.
Quando há uns anos, o então líder do PSD, Rui Rio, disse que tinha se fazer um reset na área da Justiça, abarcando a legislação, o país ficou atónito mas era próximo disso que devia ser feito. Infelizmente foi Rio a dizê-lo, um homem sem perfil para chegar a primeiro-ministro e comandar o país.
E a justiça é só um exemplo. Na área da saúde, a actual falta de médicos é consequência das cedências de sucessivos governos às pressões da Ordem dos Médicos para limitar o número de profissionais. Na educação, a mesma coisa com a falta de professores, desta vez com cedência aos sindicatos para não se flexibilizarem as regras de acesso à profissão. Em ambos os casos, o fim foi proteger os profissionais instalados e os governos foram cedendo e postergando o interesse público.
As verdadeiras reformas, num país complicado de gerir, só se conseguem tentar fazer com governos de maioria absoluta. Portugal já teve vários mas mesmo assim nenhum conseguiu quebrar as redes de interesses. Por uma razão ou por outra, todos claudicam às suas mãos, sejam as redes de interesses exteriores ao governo ou estejam no próprio coração da governação, como aconteceu agora com a governação de António Costa.
Há dias o jornal público perguntou ao ChatGPT se os palestinianos merecem liberdade e este respondeu que “é complexo.”
Também perguntámos ao ChatGPT “se há uma rede de interesses em Portugal que dificulta a defesa do interesse público”. O sistema inteligente respondeu que é “uma questão complexa”, mas que não é um problema exclusivo de Portugal.