“Cada vez há mais razão para seguir a política de sempre”
Adriano Moreira, ministro do Ultramar em 1961, fez neste ano uma série de intervenções públicas que demonstram o seu apoio total à política ultramarina do presidente do Conselho, Oliveira Salazar. Este, em 13 de Abril de 1961, na sequência do ataque aos colonos brancos por parte dos movimentos de libertação angolanos, vitimando centenas de pessoas, e do golpe falhado do general Botelho Moniz (Abrilada), pretendendo impor uma solução política para a guerra do Ultramar, defendera a luta militar sem tréguas contra os “terroristas” angolanos, apelando aos microfones da rádio para o “rapidamente e em força para Angola”.
No livro “Batalha com Esperança”, editado em 1962, que reúne as intervenções de Moreira em 1961, há uma que se destaca. Em 28 de Agosto de 1961, na Associação Comercial do Porto, o ministro do Ultramar disse o seguinte:
“Consideramos que a África ficou enriquecida quando ali implantámos a ideia de Estado e de Pátria, a que eram alheios os seus povos, e que constituiu para ela um incalculável benefício a circunstância de alguns dos seus territórios ficarem integrados numa unidade política, com povos europeus que lhes puderam fornecer aquilo de que careciam e que durante muito tempo não poderiam alcançar por si próprios. Em suma, entendemos que a fórmula portuguesa é a mais benéfica para a África ao sul do Saara (…)
Entendemos que deve ser incrementado o povoamento da nossa África por elementos europeus que ali estabeleçam o seu lar e encontrem a verdadeira continuação da Pátria. Em relação às nossas províncias não se trata, aliás, de uma política nova, trata-se de reconhecer que cada vez há mais razão para seguir a política de sempre. Mas porque a tarefa é enorme e urgente, e não pode ser deixada apenas à simples inspiração individual, entendeu-se que era necessário conjugar os esforços de todos os serviços provinciais para que, com apoio nos órgãos metropolitanos que superintendem na emigração, encarem com decisão e realismo um problema a que atribuímos alta prioridade. Para isso vão ser instituídas as Juntas Provinciais de Povoamento, que serão desde já instaladas em Angola e Moçambique, e directamente dependentes de um dos secretários provinciais, para afastar do seu caminho muitas das dificuldades que são inerentes aos problemas de coordenação. Deste modo esperamos que se definam e realizem a tempo as condições indispensáveis para fixar designadamente os jovens que ali se encontram em serviço militar, e que têm defendido a soberania nacional com uma bravura que apenas se encontra em quem está a defender a sua própria terra. (…)
Por outro lado, ao afirmar claramente a alta prioridade do problema do povoamento com elementos metropolitanos, queremos sublinhar perante a comunidade das nações a decisão nacional de continuar a política de integração multirracial, sem a qual não haverá nem paz nem civilização na África Negra: integração multirracial feita com absoluta rejeição de todo o mercenarismo, antes iluminada, como sempre foi no passado, pela crença na igual dignidade de todos os homens, independentemente da sua cor; uma politica cujos benefícios estão documentados pelo maior país do futuro que é o Brasil, e de que são já hoje exemplos sem réplica as províncias do Atlântico e do Oriente”.
Recorde-se que Adriano Moreira se tornou ministro do Ultramar em 13 de Abril de 1961, logo a seguir à Abrilada, tendo contribuído, juntamente com Kaúlza de Arriaga, para o fracasso do golpe de Botelho Moniz.