Otelo evitou prisão de Champalimaud
Otelo Saraiva de Carvalho, então comandante operacional do COPCON, permitiu a António Champalimaud sair de Portugal para Paris semanas antes do golpe de 11 de Março de 1975, da nacionalização dos bancos e da prisão de muitos dos seus administradores, inclusive do Banco Pinto e Sotto Mayor, de que Champalimaud era dono.
É Jaime Nogueira Pinto, no livro António Champalimaud – um Olhar (editora Dom Quixote), quem conta como decorreu o encontro entre os dois, na casa do banqueiro, promovido por Ricardo Bayão Horta, que era padrinho da filha de Otelo.
“Otelo chegou de chaimite à Rua do Sacramento, escoltado por pessoal armado e dois jipes que bloqueavam a rua. E foi de camuflado e G3 que se apresentou na casa de jantar de Champalimaud, onde foi recebido com baixela de prata e criado de libré.
A conversa correu o pior possível, com António Champalimaud a interrogar o convidado sobre as intenções do MFA e o futuro da Siderurgia Nacional (ainda por nacionalizar) e Otelo a explicar-lhe as virtudes da revolução e da social-democracia, com dinheiro para todos, casas para todos, carros para todos – ressalvando que, para um capitalista como ele, tão auspiciosa possibilidade seria difícil, se não mesmo impossível, de conceber.
No fim do almoço, quando Otelo se retirou, Bayão Horta comentou com António Champalimaud que o encontro tinha sido inútil porque, tal como previra, não havia diálogo possível entre personalidades tão antagónicas.
– Pois aí é que se engana, Ricardo, ainda bem que mo trouxe cá hoje.
E foi pena não ter sido mais cedo. É que se já mo tivesse cá trazido, eu já me tinha ido embora. E é o que conto agora fazer.
Assim, foi de Paris que António Champalimaud assistiu à ocupação e à nacionalização do banco e à prisão dos seus administradores, que ficaram meses em Caxias sem acusação concreta.”