Os ossos de Camões estão no Mosteiro dos Jerónimos?
No dia em que os restos mortais de Eça de Queirós, foram depositados no Panteão Nacional, é pertinente fazer a pergunta sobre os ossos do mais insigne autor português. Os ossos de Luís de Camões estarão, de facto, no Mosteiro dos Jerónimos? A biógrafa do poeta Isabel Rio Novo, no livro “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte” (Editora Contraponto, Lisboa 2024) defende que sim mas misturados com outros esqueletos de homens e mulheres do seu tempo.
“Quando, primeiro em 1836, no rescaldo das guerras civis entre liberais e absolutistas, e depois em 1880, se quis resgatar as ossadas de Camões, começou uma odisseia.
Como se viu, desde que D. Gonçalo Coutinho deu sepultura a Camões [em 1595], os despojos do Poeta permaneceram intocados. Mas, de início, repousaram numa vala comum.
Se, ao longo dos séculos, houve algum erro, esse ocorreu aquando da primeira trasladação. Aonde nos conduz tudo isto?
É provável que, nas ossadas veneradas no Mosteiro dos Jerónimos, haja algumas que pertenceram a Camões, à mistura com as de outros homens e mulheres, talvez vítimas da peste, que tenham ido parar à mesma vala.
Quer sejam ‘os supostos ossos’ de Camões, como escrevia Tomás de Mello Breyner, ou os ‘Ossos prováveis’ de Camões, como dizia António Nobre, nada nos impede de prestar homenagem no túmulo dos Jerónimos.
Se não estiver lá nenhuma parte de Camões, e é provável que esteja, estão os restos mortais de algum homem ou mulher do seu tempo.
Ou talvez prefiramos a versão de Faria e Sousa, para quem aquele que tratava por mi Poeta era imortal: ‘Como desta maneira no muriò, no avia menester sepulcro.’ Como, afinal, não morreu, não tinha necessidade de sepulcro”.