Pai de Carlos Moedas acusado de desejar sucesso do Golpe de Beja em 1962
É conhecido que o pai do actual presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, José Moedas, jornalista do Diário do Alentejo, sempre foi um homem da oposição ao regime de Salazar e militante do PCP.
Em 1 de janeiro de 1962, então chefe de redacção do jornal, foi ele quem fez a cobertura do golpe de Beja, um assalto ao quartel da cidade perpretado na madrugada deste dia por um conjunto de militares e civis liderados pelo capitão Varela Gomes, também com a intervenção do general Humberto Delgado, e quem teve um curioso diálogo no Hospital com o militar apoiante do regime que fez abortar o golpe, o major Henrique Calapez, 2º comandante do Quartel de Beja.
Calapez, que matou vários implicados e feriu gravemente Varela Gomes nas instalações assaltadas do quartel, sendo também ferido, mas ligeiramente, acusou sub-repticiamente o jornalista, certamente com a imagem para Calapez de ser um oposicionista, de ficar satisfeito se o golpe tivesse tido sucesso.
É o próprio José Moedas quem conta o sucedido, já após o 25 de Abril, no Diário de Lisboa de 31.12.1974
“Foram os leiteiros que espalharam a notícia pela cidade, logo às primeiras horas da manhã. Depois, pusemo-nos todos a ouvir a Rádio e fomos sabendo coisas. Mais tarde, tive de me lançar, em serviço do meu jornal, nos pormenores do caso. Claro que muitos dos pormenores não foram publicados.
Mesmo assim, lá consegui, por exemplo, uma entrevista com a esposa do capitão Varela que veio a lume muito cercadinha pela Censura. Dias depois, a esposa de Varela Gomes era presa. O dr. Melo Borges também. O Honório, igualmente. E mais umas quantas pessoas.
Mas há dois factos que eu registei: um, quando me expulsaram da esquadra da Polícia, aos berros, por tentar saber coisas. A outra foi chegar ao Hospital para a recolha de notícias, e deparar com o então major Calapez sentado a uma secretária, e que ao ver-me me berrou: ‘Estou vivo, não vê? (e apalpava-se diante do meu olhar espantado). Estou vivo, o que quer dizer que os seus amigos não conseguiram liquidar-me”.