O Mundo Criou o Ocidente

A historiadora Josephine Quinn defende no livro “O Mundo Criou o Ocidente”, recentemente lançado em Portugal pela editora Temas e Debates, que foram as relações da Europa com os povos da Ásia, América e África que criaram a verdadeira história do Ocidente.
Muitas vezes estas relações foram de carácter dominador e esclavagista, particularmente em África e na América. No entanto, acabaram por ser estas experiências trágicas para os povos dominados que contribuíram para criar os chamados “valores ocidentais”, como a liberdade, a justiça e a tolerância.
No quadro deste panorama, a autora lembra que Portugal criou o primeiro mercado de escravos da Europa moderna, referindo na obra: “Na década de 1470, os marinheiros portugueses chegaram à Costa do Ouro e, em 1482, construíram um castelo em Elmina, no atual Gana. Militarizaram a região, levando consigo canhões, mosquetes e mosqueteiros treinados, e armando os governantes locais. Entretanto, a extração no interior aumentou: na década de 1480, há relatos sobre minas a uma profundidade de quase setenta metros nos campos auríferos dos acãs no rio Volta – os mais ricos de todas as fontes da África Ocidental, abertos no século XIV ou XV em resposta à crescente procura. Na década de 1490, João II de Portugal era conhecido em Itália como il Re d’Oro, o Rei do Ouro.
O ouro não era, porém, o único objetivo. Os agentes portugueses começaram a raptar pessoas em incursões realizadas depois de 1441. Em 144, um total de 235 africanos foram capturados na baía de Arguim, ao largo da Mauritânia, e levados para o porto de Lagos, em Portugal, onde se estabeleceu o primeiro mercado de escravos da Europa moderna. Em meados do século XV, um comerciante veneziano relata que os portugueses enviavam mil escravos por ano do seu forte em Arguim”.