A culpa é do mordomo
Em Portugal é forte o vício de um político sacudir a água do capote, culpar o mordomo ou arranjar um esquema imaginoso de que a culpa é dos gambuzinos ou dos maluquinhos que povoam as aldeias.
Luís Montenegro atribuiu as responsabilidades dos incêndios aos pirómanos. Fez um estardalhaço com esta tese, o que deve ter deixado de pouca aberta muito especialista europeu na matéria, que sabe as causas principais dos incêndios. A má gestão é a primeira. Tanto terrirorial, num país que nem sequer está regionalizado, como de recursos humanos, no que respeita aos bombeiros. Como disse o presidente da Liga dos Bombeiros, António Nunes, ao Diário de Notícias “quem esteve mal no terreno, com falta de coordenação, comando e controlo foi a Proteção Civil.
As alterações climáticas são a segunda, num país que continua a olhar para este problema de forma demagógica. Defende o ambiente só em teoria porque as políticas no terreno são um desastre, nomeadamente as de mobilidade. As cidades estão cada vez mais poluídas, com mais viaturas, a fuel ou electricidade, e o turismo continua a ser gerido à pressão, tendo como único objectivo o aumento do PIB. Exemplo paradigmático desta loucura é no ano de 2024, e seguramente por mais dez anos, a capital portuguesa continuar a ter o aeroporto internacional, a estrutura mais poluente do país, bem no centro da cidade.
O ex-secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, culpou a secretária pela marcação da consulta médica às gémeas brasileiras pela porta do cavado, acarinhando um pedido do filho do Presidente da República. A secretária, Carla Siva, ouvida esta semana em Comissão de Inquérito, foi absolutamente convicente a desmentir o político. Lacerda Sales sabia de tudo e foi o mandante da marcação das consultas.
Lacerda não é, naturalmente, caso único nos políticos que culparam o mordomo. Ainda há poucas semanas, o Director Geral dos Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa Gonçalves, acusou os guardas prisionais pela fuga de cinco presos da prisão de Vale de Judeus.