A vaquinha voadora de António Costa não voa para a Ucrânia
António Costa tinha um brinquedo na Câmara Municipal de Lisboa
Era uma vaca voadora que tinha trazido de uma viagem ao estrangeiro.
Utilizava-a nas reuniões com os seus colaboradores para mostrar que não havia impossíveis.
Primeiro-ministro há sete anos, António Costa, parece ter uma noção muito diferente dos impossíveis conforme está na frente interna ou na frente externa.
Na frente interna, fez a geringonça em 2015 e continuou-a em 2019. A vaquinha voou.
Conseguiu de 2015 a 2019 fazer a quadratura do círculo. Chegou ao poder para demolir a austeridade de Passos Coelho mas abusou das cativações orçamentais e em 2019 apresentou o primeiro excedente orçamental (0,2%) desde o 25 de Abril de 1974. A vaquinha voou.
Os longos juros baixos na Europa, os incríveis estímulos monetários do BCE durante quase uma década e o PCP “geringonçado” impedido de fazer greves parecem ter si prontos a vestir na vaquinha voadora de Costa.
Quando o PCP e o BE derrubaram o governo em 2021, a vaca voadora também sorriu. Foi mais uma oportunidade para Costa, parecida com a que Cavaco Silva teve em 1987, quando a coligação negativa da esquerda derrubou o seu governo minoritário.
Até a vitória de Carlos Moedas em Lisboa nas autárquicas de 2021 constituiu um voo da vaquinha. A esquerda dispersou o seu voto na capital e ficou em estado de choque. Traumatizada, foi a correr votar Costa nas legislativas, dando-lhe a maioria absoluta.
Nestes primeiros meses do seu segundo governo, a vaquinha de Costa já deu o ar da sua graça.
Com um país preso por fios, sem professores, sem médicos, sem juízes, sem funcionários judiciais, com funcionários do SEF apostados em vingarem-se do governo, o que fez Costa?
Pôs a vaquinha a voar.
Carinho à semana de trabalho de quatro dias, repto às empresas privadas para aumentarem 20 por cento os salários, o desafio de que o Estado vai fazer o mesmo aumento. E que vai contratar, e que vai gastar… Parece o lançamento de dinheiro através de helicóptero para os portugueses gastarem e manterem artificialmente a economia portuguesa através do modelo de consumo, assente na dívida pública e na falta de investimento produtivo. É um autêntico batalhão de vaquinhas voadoras.
Estranhamente, onde as vacas de Costa não voam é na frente externa, na Ucrânia.
António Costa é o parceiro europeu mais reticente à estratégia que tem sido seguida, quer no respeita à escalada da guerra, quer no que respeita à estratégia da União Europeia para a terminar. Há um mês, quando visitou Kiev, Costa disse a Zelensky que ele sabe bem o que implica pertencer à UE, comentário sibilino referente à ilegalização de partidos na Ucrânia, xenofobia e extremismo.
O plano europeu dos últimos dias, feito à pressão, advinha-se qual é: usar a cenoura da adesão da Ucrânia à UE para levar Zelenski à mesa das negociações com a Rússia e fazer concessões territoriais.
Os colegas europeus estão eufóricos mas Costa arrefeceu-lhe os ânimos ao dizer que o processo de adesão “é longo”, que não se devem dar “falsas expectativas” aos ucranianos ou “criar frustrações que resultarão num amargo futuro”. E que a adesão da Ucrânia pode significar “não um reforço da União Europeia, mas a sua implosão”. Não há cá vaquinhas voadoras de Costa na Ucrânia. É de um verdadeiro estadista, desmancha –prazeres mas visionário e realista. Parecido com Chrurchil quando no fim da Segunda Guerra Mundial alertou o mundo para uma guerra seguinte contra a Cortina de Ferro, da URSS e seus satélites.