Afeganistão: um verdadeiro fedor a mentiras
Invade-se o Afeganistão em 2001 para proteger o Ocidente do terrorismo, EUA e Europa, mas o país é deixado em cacos em 2021, com imagens de milhares de afegãos desesperados em fuga dos taliban, ao ponto de tentarem agarrar-se à fuselagem de um avião norte-americano de carga, caírem em voo a mil metros de altura e morrerem.
Apoiam-se os mujahedin afegãos (os taliban da altura) contra a URSS, no período da guerra fria, nos anos 1980, em mera e estafada realpolitik.
Mente-se que o Iraque tem armas de destruição maciça para invadir o país em 2003 e matar Saddam Hussein, antes apoiado pelo Ocidente na Guerra contra o Irão entre 1980 e 1988. Deixa-se um pais exangue de actos terroristas e estilhaçado em grupos rivais.
Apoia-se a Arábia Saudita e as demais ditaduras do Golfo ricas em petróleo, que financiam discretamente grupos islâmicos extremistas.
Em 2022, realiza-se mesmo o Mundial de Futebol no Qatar, no mês de Novembro, com temperaturas altas, numa candidatura vencedora que ainda suscita muitas dúvidas sobre os processos utilizados.
Condenam-se os taliban por atentarem contra os direitos das mulheres mas não os reis e emires da Arábia Saudita e países do Golfo Pérsico que discriminam as mulheres de igual forma.
Derrubou-se o ditador Muammar Kadhafi na Líbia mas deixou-se um país estilhaçado, entregue aos senhores da guerra.
Apoia-se a Síria do ditador Bashar al-Assad porque faz tampão aos grupos terroristas e se tem medo da Rússia.
Alimentaram-se hipocritamente as Primaveras árabes mas nada se fez para as preservar. Por exemplo no Egipto, o Ocidente colocou em 2014 no poder um líder autoritário, o general al-Sisi, ainda pior do que Hosni Mubarak.
Continuam a criar-se sementes de revolta entre os palestinianos porque o Ocidente deixa os israelitas ganharem sempre novas porções de terra com os colonatos judaicos, numa região onde a terra é tão rara como o ouro. Por sua vez, o Estado palestiniano continua com o estatuto diminuído na ONU, de “Estado não-membro observador”, e está amputado de territórios, na Cisjordânia, e sem direito à sua capital em Jerusalém-Leste.
Noutra latitude, na China, num país que é uma ditadura de partido único, sem direitos laborais, permitiu-se a criação de um bazar mundial chinês à custa do desemprego de milhões de trabalhadores ocidentais, engordando os lucros das grandes multinacionais que deslocalizaram as suas produções, e dando a ilusão aos consumidores ocidentais que tinham melhores salários porque compravam mais barato.
Estas políticas erráticas do Ocidente demonstram uma crise profunda de princípios nos seus governos e lideranças, ainda mais grave porque EUA e Europa arvoram uma supremacia moral que não têm, gerando cada vez mais desprezo entre os próprios cidadãos ocidentais e uma profunda revolta nos descamisados pelo mundo fora, os que caem em voo das fuselagens e dos trens de aterragem dos aviões, como os afegãos. Que hoje em Cabul perguntam? Qual foi o plano deles? Como dizia o coronel Kurtz a partir das florestas do Laos, no filme Apocalipse Now, não há plano nem método nenhum porque tudo não passa de mentiras e mais mentiras do Ocidente, um verdadeiro fedor a mentiras, como também lhe chamava Kurtz.