Afinal, os anos do gonçalvismo foram anos com uma economia saudável?
O ex-primeiro-ministro Vasco Gonçalves rebateu em 2002 as acusações de que os seus quatro governos provisórios, entre Julho de 1974 e Setembro de 1975 foram anos de destruição da economia portuguesa.
No livro “Um General na Revolução”, de Manuela Cruzeiro (Editorial Notícias, 2002), que consiste numa longa entrevista a Vasco Gonçalves, este socorre-se de um relatório da OCDE de 1976 para sustentar que a economia do país foi saudável em 1975, em grande medida pelas políticas desenvolvidas ou inspiradas nos seus governos provisórios.
Na verdade, um relatório de uma missão patrocinada pela OCDE que esteve no nosso país de 15 a 20 de Dezembro de 1975, composta por Rudinger Dornebersh, Richard E. Ekaus e Lance Taylor, do Departamento de Economia do Massachusetts Institute e of Technology (MIT), pode ler-se: “Parece ser opinião virtualmente unânime em Portugal que houve um catastrófico declínio na actividade económica no segundo semestre de 1974 e durante o ano de 1975. Em face de tão sombrias perspectivas, pode ser encarado como injustificado optimismo sustentar que, embora a situação seja muito fluida no princípio de 1976, a economia portuguesa está surpreendentemente saudável. Se há uma potencialidade perigosa para novos declínios reais no produto e no rendimento, mais desemprego e inflação, há também a potencialidade para uma forte recuperação (…). Para um país que recentemente passou por reformas sociais, um mar de mudanças na sua posição no comércio externo e seis governos revolucionários nos últimos dezanove meses, Portugal goza, inesperadamente, de boa saúde económica. Se o produto real caiu claramente em 1975, o declínio não foi precipitado. A melhor estimativa é a de uma diminuição de três por cento no produto interno bruto (PIB). Em comparação com outros países da OCDE, a experiência portuguesa não parece ser muito pior do que a média. De facto, o desempenho da sua economia foi extremamente robusto quando as incertezas políticas de 1975 são levadas em conta. Em comparação, o declínio de PIB em 1975, nos Estados Unidos, foi de cerca de três por cento, na Alemanha Ocidental, próximo dos quatro por cento e na Itália quase quatro e meio por cento.”