Ai que coisas mais lindas se podiam fazer se o PS quisesse
Portugal é um país onde frequentemente o Estado não se orienta por critérios de racionalidade e interesse público, o que não só o debilita como enfraquece a sociedade civil, que se desinteressa e desmorece de viver num país assim.
O PS, com a maioria absoluta que alcançou a 30 de janeiro podia mudar o país de alto a baixo em quatro anos, mas não é certamente isso que vai fazer. Talvez se salvem o novo aeroporto e os comboios mas até isso é incerto.
Não faltam reformas a fazer em Portugal.
A Constituição de 1976, com quase 50 anos, é um texto a necessitar de revisão profunda, nos capítulos político e económico. Não é fácil fazê-lo com os partidos do actual regime, PS e PSD. Recorde-se que antigas constituições portuguesas só deixaram de existir através de revoluções. A de 1822 (seguida de fórmulas nas décadas seguintes que foram mais revisões do que novas Constituições) só em 1911 com a implantação da República. Esta só em 1933 com o regime salazarista e a de 1976 com o 25 de Abril.
O sistema eleitoral vigente cria directórios na Assembleia da República dos partidos do governo, PS e PSD, que retiram dignidade aos seus deputados, meros instrumentos das lideranças, ora rosa, ora laranja. A previsão constitucional sobre a criação de círculos uninominais que aproximem os cidadãos dos seus representantes e confiram mais independência e qualidade a estes continua por realizar.
Portugal é um Estado altamente centralizado onde as regiões mais interiores e rurais continuam subdesenvolvidas. Há muitos casos onde a situação até piorou nas últimas décadas. Concelhos onde praticamente não há empresas geradoras de emprego, onde existem poucos serviços, não há médicos, faltam magistrados, a cobertura de internet é péssima. Os jovens abandonam as famílias e partem sobretudo para a Grande Lisboa. Um país pequeno que mesmo assim renuncia a uma parte do seu território tem algo de profundamente doentio.
Por sua vez, muitos concelhos portugueses, mesmo que aparentemente dinâmicos, vivem efectivamente dos milhares de empregos públicos junto das suas Câmaras Municipais porque a iniciativa privada é escassa.
As leis são às centenas em Portugal e mudam com uma frequência impressionante, ao sabor da alteração dos governos, dos ministros, do poder das redes de interesses e grupos de pressão. Por exemplo, o Código de Trabalho que entrou em vigor em 2009 já teve 22 alterações desde essa data. O Código Penal, efectivamente de 1995 apesar de ser designado de 1982 já teve… 54 alterações, a última das quais há apenas dois meses, já com o Governo de António Costa em gestão para eleições. As leis fiscais mudam ainda mais.
A produtividade é baixa em Portugal, em boa medida porque as PME têm empregadores e empregados pouco qualificados.
As corporações, as ordens profissionais, são às dezenas em Portugal e têm aumentado nos últimos anos. Defendem interesses particulares da corporação e não o interesse público e conseguem determinar a política dos governos, como é o caso da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Advogados.
Faltam médicos e professores em Portugal. Os primeiros porque a Ordem dos Médicos tem defendido o escol dos seus associados, impondo numerus clausus que, apesar de menos rígidos nos últimos anos, não impedem a falta de médicos. O argumento, muitas vezes, é o de dispormos de médicos mais qualificados, camuflando, assim, o real condicionamento à profissão por parte dos que já exercem a medicina. Com os professores, a cedência aos ditames dos sindicatos, tem impedido a formação de novos profissionais mais rapidamente e através de novos modelos.
Portugal precisa de uma verdadeira reforma do Estado que o emagreça substancialmente em áreas menos prioritárias (por exemplo, Defesa, Administração Interna e Televisão) e o torne muito mais eficaz.
O sistema de ensino continua, em regra, bastante clássico, sem atender ao ensino técnico, ao modelo dual de linha alemã. Os programas de ensino são os mesmos de há 50 anos mesmo que o mundo, entretanto, tenha mudado 360º graus.
Portugal é um dos poucos países do mundo desenvolvido que mantém um aeroporto no centro da sua capital, nunca tendo conseguido entender-se desde o 25 de Abril de 1974 sobre a construção de um novo nas imediações.
Portugal nunca apostou no TGV e continua sem uma linha ferroviária que o ligue à Europa. Também não tem uma linha ferroviária nacional rápida e em condições.
Lisboa não tem há décadas uma boa rede de transportes públicos e uma linha de metropolitano abrangente.
Portugal continua um país burocrático em muitas matérias.