Alexander Soljenítsin: “são perniciosos os ânimos exaltados na discussão sobre a Ucrânia”
O famoso dissidente russo, Alexander Soljenítsin (1918-2008), Prémio Nobel da Literatura e autor do livro “Arquipélago Gulag” escreveu muitas vezes sobre a Ucrânia, quer antes, quer depois da queda da URSS, e sobre o nacionalismo e as tensões étnicas no país. O Objectivo recorda alguns dos seus escritos:
“No meu coração, não há lugar para um conflito russo-ucraniano, e, Deus me livre, se as coisas chegarem ao extremo, poderei dizer: nunca, sob nenhuma circunstância, eu ou os meus filhos entraremos num confronto russo-ucraniano. Não importa o quanto algumas cabeças efervescentes nos possam empurrar para um conflito”.
“Acho a intolerância feroz na discussão do problema russo-ucraniano (fatal para ambas as nações e benéfico apenas para os seus inimigos) particularmente dolorosa. Eu próprio sou de origem mista russa e ucraniana, cresci sob a influência conjunta de ambas as culturas e nunca vi nem vejo antagonismo entre elas”.
“Dói-me escrever isto, já que a Ucrânia e a Rússia estão fundidas no meu sangue, no meu coração e nos meus pensamentos. Mas a vasta experiência de contactos com os ucranianos nos campos de concentração mostrou-me que eles guardam rancor. A nossa geração vai pagar pelos erros dos nossos pais.”
“O problema russo-ucraniano é uma das grandes questões atuais e de importância crucial para os nossos povos. No entanto, parece-me que são perniciosos os ânimos exaltados nesta discussão”.
“Pode ser necessário um referendo para cada região ucraniana, dada a forma como as terras que nunca pertenceram historicamente à Ucrânia foram agrupadas pelos bolcheviques”
“Há regiões da Ucrânia em que a população se considera ucraniana, outras em que se considera russa e ainda aquelas que não se consideram nem uma coisa nem outra. Portanto, vamos ter grandes problemas”.
“Talvez seja necessário fazer um referendo em cada região da Ucrânia e depois garantir protecção aqueles que não querem permanecer após os resultados”.