António Costa: mais um que se quer ir embora
A prestação de António Costa foi tão má nesta campanha eleitoral que ele, um profissional da política de alto coturno, só pode querer perder as eleições do próximo domingo por se ter cansado do pais e percebido que ele não é governável.
Ficando o PSD à frente do PS, ainda que por pouco, será o líder laranja o incumbente a formar governo. Se não for assim, e for o PS a ganhar por pouco, fique-se com a certeza que não é isso que Costa quer. O que pode abrir uma crise mais à frente, com o líder do PS a querer de novo libertar-se.
António Guterres percebeu o mesmo sobre o país em 2001.
Pouco antes das eleições autárquicas desse ano, que foram uma hecatombe para o PS, António Guterres ainda não sabia os resultados mas disse aos mais próximos que esperassem pela noite eleitoral porque ia ser surpreendente.
Demitiu-se na noite de 16 de Dezembro de 2001.
O último ano tinha sido horribilis para Guterres, com os ataques aos orçamentos dos queijos limianos, o caso de Armando Vara e da Fundação de Prevenção e Segurança e a queda da ponte de Entre-os-Rios, em Março de 2001, que levou à demissão do seu braço-direito, Jorge Coelho.
Curiosamente, à semelhança de Guterres, também António Costa perdeu o seu braço direito Eduardo Cabrita por causa do acidente na A6. Ambos ficaram órfãos políticos.
Como é sabido, António Guterres foi pouco depois para Alto-Comissário dos Refugiados, plataforma para Secretário-Geral da ONU, cargo que ainda exerce. Nem quer ouvir falar de exercer nenhum posto em Portugal, rejeitando candidatar-se a Presidente da República.
Também Costa rejeitou há pouco tempo ser no futuro candidato à Presidência da República.
À semelhança de Guterres, Costa quer e tem condições para fazer a sua vida lá fora, num lugar de prestígio. O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, termina o seu mandato em maio e o ainda líder do PS está à espreita.
Durão Barroso foi outro primeiro-ministro que se quis embora. Resiliente, chegou ao poder com dificuldades em 2002 depois de perder em 1999 para Guterres (lembrando Rui Rio). Arrimou em São Bento com fulgor mas rapidamente entrou em agonia. Perdeu com estrondo as europeias de 2004 e foi-se embora para Presidente da Comissão Europeia, onde esteve dez anos, plataforma, num Velho Continente em agonia de valores, para Chairman do grupo financeiro mundial Goldman Sachs. Durão também não quer ouvir falar de Portugal, onde, aliás, continua bastante impopular (por causa da invasão do Iraque e das fortes ligações ao capitalismo internacional) e tem rejeitado ser candidato à Presidência da República.
Rui Rio, se ganhar as eleições no próximo domingo, parece não ter o risco de querer sair do país mais tarde, mas porque não tem a arte e o engenho para o fazer (o que não é necessariamente negativo face ao pântano em que a Europa vive).
Com Rio é, portanto, diferente, mas para o país pode ser igual porque o líder laranja, se for primeiro-ministro, vem com forte espírito reformista mas parece falhar os alvos das verdadeiras reformas e ter medo de afrontar os verdadeiros interesses (o que é matéria para outro artigo).
Com Rio é diferente mas para o país é igual. Continuará ingovernável, não se deixando governar ou, muito mais provável, não encontrando ninguém que o saiba governar.