António Costa, o primeiro-ministro da propaganda
Daniel de Proença de Carvalho passou à história como ministro da propaganda. Era titular da pasta da comunicação do IV governo constitucional (1978-1979), de iniciativa do presidente Ramalho Eanes, chefiado por Carlos da Mota Pinto.
Maria de Lurdes Pintasilgo também passou à história como primeiro-ministro de um governo de gestão de cinco meses (1979) que actuou como se fosse um governo emanado de eleições e executou várias políticas eleitoralistas. Chefiava o V Governo Constitucional, também da iniciativa de Eanes.
António Costa, após a entrevista que hoje deu à RTP 1, pode passar à história como primeiro-ministro da propaganda.
António Costa deu a entrevista televisiva em S. Bento, residência oficial do primeiro-ministro. Misturou tudo, a qualidade de primeiro-ministro com a de secretário-geral do PS, anunciou medidas do executivo enquanto expunha a estratégia do PS para as eleições de 30 de janeiro e pós-eleições. Umas vezes falou solenemente como chefe de governo, outras vezes dirigiu-se directamente às câmaras para falar aos portugueses, como se estivesse num tempo de antena do PS.
Este descaramento propagandístico ilustra ao mesmo tempo a fragilidade de António Costa. A geringonça era o seu seguro político. Ruindo esta, começam a surgir os fantasmas do passado, a confissão de há muitos anos de que nunca chegaria nem a líder do PS nem a primeiro-ministro, a derrota inesperada para Passos Coelho em 2015, uma raridade na Europa que assistiu à alternância eleitoral após os anos da crise das dívidas soberanas.
Quando falham as políticas e os argumentos, a tendência é para propagandear. José Sócrates fez o mesmo nas suas piores fases.
Quando Maria de Lurdes Pintasilgo fez a sua propaganda eleitoralista de esquerda, aumentando salários e pensões em cinco meses de governo, pensava que estava a beneficiar a esquerda para as eleições intercalares que se realizavam em dezembro de 1979 mas em vez disso quem ganhou as eleições, com maioria absoluta, foi a Aliança Democrática de Sá Carneiro e Freitas do Amaral.
António Costa também anunciou que vai aumentar salários e o salário mínimo nacional em janeiro de 2002, o mês das eleições. Conta ser beneficiado nas urnas mas, tal como Pintasilgo, pode-lhe sair o tiro pela culatra. Obviamente, que nem Rui Rio nem Paulo Rangel têm a dimensão de Sá Carneiro mas podem atingir o mesmo resultado de forma mais modesta: a simples alternância política.