Apoio militar esmagador ao V Governo de Vasco Gonçalves
Em 200 oficiais presentes numa assembleia realizada em Lisboa em Agosto de 1975, apenas dois votaram contra a indigitação de Vasco Gonçalves para formar o V Governo Constitucional, um executivo que os principais partidos políticos da altura não apoiaram e que durou apenas 41 dias.
Quem conta é o general Costa Gomes, então Presidente da República, no livro O Último Marechal, de Manuela Cruzeiro, Círculo de Leitores, 1998. Costa Gomes convocou a reunião para auscultar a posição dos militares, sobretudo do Exército, e diz que ficou surpreendido com os resultados. O Objectivo publica extractos da obra:
“Lembro-me muito bem da forma como foi elaborado o V Governo.
Houve, no Forte de São Julião, uma reunião comigo, com o general Vasco Gonçalves e com o professor Teixeira Ribeiro, que foi o vice-primeiro-ministro desse Governo provisório.
O Vasco reivindicava o direito de continuar nas funções, enquanto eu lhe dizia que era tempo de deixar o lugar e de se escolher outro.
Foi, então, no meio desta discussão, que entrou o Otelo e disse ao Vasco Gonçalves esta coisa muito importante: ‘Senhor General, as tropas sob o meu comando não lhe obedecem nem tão-pouco o querem como primeiro-ministro.’
Eu, que estava a presidir à reunião, disse: ‘Vamos acabar aqui a reunião e vamos convocar a maioria dos oficiais da guarnição militar de Lisboa para se discutir o problema da escolha de um primeiro-ministro militar para liderar o Quinto Governo.’
Essa reunião efectuou-se dois dias depois, com a presença de mais de 200 oficiais, entre os quais os comandantes e segundos-comandantes de todos os regimentos de Lisboa e até alguns de fora.
Expus o problema e perguntei qual era a opinião dos oficiais presentes, que, até certo ponto, representavam as Forças Armadas, sobretudo o Exército. Para surpresa minha (de referir que o Vasco e o Otelo assistiram à reunião), a esmagadora maioria dos presentes considerou que o Vasco Gonçalves devia ser nomeado primeiro-ministro do Quinto Governo.
Tanto quanto me recordo, só houve dois, em cerca de 200, que se opuseram. Se os oficiais da Região Militar de Lisboa, que representavam uma grande componente nas Forças Armadas, queriam o Vasco Gonçalves, ele teria mesmo de ser nomeado. Imediatamente lhes disse, no entanto, que, perante a situação que se vivia, o Governo iria ser, com certeza, de pouca duração.”