Bento XVI e o Prémio Nobel da Literatura: dois membros da Juventude Hitleriana num campo de prisioneiros americano
O Papa emérito Bento XVI ou Joseph Ratzinger, enterrado esta semana na Basílica de São Pedro, pertenceu à Juventude Hitleriana e esteve detido durante um mês, em Maio de 1945, num campo norte-americano de prisioneiros, na cidade alemã de Ulm.
Ratzinger, então com 18 anos, foi treinado militarmente em Abril de 1945, quando o Terceiro Reich já estava perto da derrota na II Guerra Mundial e tentou reagir desesperadamente através do recrutamento em massa de jovens alemães.
Outro jovem de 17 anos que pertenceu à Juventude Hitleriana (este voluntariamente enquanto Ratzinger foi obrigado a alistar-se) e esteve detido no mesmo campo de prisioneiros norte-americano de Ulm foi Gunter Grass, tendo então conhecido Ratzinger, com quem jogava aos dados.
Nas suas memórias, Ratzinger não deu grandes pormenores sobre esta fase da sua vida mas o escritor alemão, Prémio Nobel da Literatura, escreve sobre eles na sua autobiografia “Descascando a Cebola” (Casa das Letras, Lisboa, 2007)
O Objectivo recorda estas memórias de Grass:
“No campo de Bad Aibling, três cigarros da marca Camel renderam-me um pacotinho de cominhos. Dei um bocado ao meu camarada, com quem ficava acocorado, debaixo de uma lona de tenda, quando chovia sem parar, jogando com três dados, possivelmente pelo nosso futuro. Lá está ele, chama-se Joseph, tenta convencer-me – em voz imperturbavelmente baixa, suave mesmo – e não me sai da cabeça. Eu queria ser isto, ele queria ser aquilo. Eu dizia que há muitas verdades. Ele dizia que só havia aquela, única. Eu dizia que não acreditava em mais nada. Ele empilhava um dogma atrás do outro. Eu exclamava: Joseph, tu deves querer ser o grande inquisidor ou ainda algo mais acima. Ele tirava sempre mais alguns pontos nos dados e citava, ao lançá-los, Santo Agostinho, como se as confissões dele estivessem diante dele em versão latina”.