Catequese global e espavento
A religião católica continua a ser uma religião de dinheiro e espavento, como ficou demonstrado nas Jornadas Mundiais da Juventude.
A coberto da palavra de Deus e Jesus Cristo, a estrutura eclesiástica, o papa, os cardeais, os bispos, os novos ídolos, sobretudo Francisco, submergem e avassalam com missas e aparições a comunicação interior do Homem com Deus, do Homem consigo próprio, a reflexão do Homem com a vida.
Misturam Deus com os grandes desafios de uma sociedade contemporânea cada vez mais acrítica, alienada pelos consumos de todos os géneros, os tradicionais e os tecnológicos, cada vez mais injusta e assimétrica económica e socialmente mas apenas com intuitos demagógicos e manipulatórios. O Papa Francisco repete para não terem medo mas bem sabe que a Igreja é conservadora e não quer mudar estruturas económicas e sociais, sendo um dos esteios no Ocidente cristão dessas mesmas estruturas.
É uma religião que tenta sempre mostrar que os católicos são uma religião superior às outras, com uma forte missão evangelizadora, buscando sempre novas ovelhas para a sua igreja, nada encontrando hoje melhor do que o jesuíta Francisco para cumprir essa missão como membro dessa seita que tentou insistentemente evangelizar o mundo ao longo da história, intrometendo-se na esfera do Estado, com pleno sucesso em sociedades indígenas, como o Brasil, mas fracassando em sociedades já evoluídas, como a China, o Japão e a Índia.
As novas catedrais medievais, as novas catequeses globais, para mostrar o poder da Igreja Católica são estas JMJ, em que a organização mundial católica se esmera a mobilizar as suas estruturas por todo o mundo para mostrar o seu poder colossal, largando dinheiro a rodos, esse dinheiro e riqueza que são intrínsecas à Igreja há vários séculos, tendo hoje como melhores antenas ideológicas ao seu serviço as televisões acríticas e monotemáticas dos países (laicos) onde se realizam as jornadas sem pagar um centavo, muitas vezes estatais, em violação da laicicidade do Estado da Constituição da República e da letra e do espírito da lei de liberdade religiosa em vigor.
Portugal é um pais excelente para construir estas novas catedrais católicas, um país filho da bula papal manifestus probatus, um país em que o Rei D. Manuel realizou embaixadas faustosas ao Papa em Roma, um país em que D. João V delapidou os cofres públicos com oferendas à Igreja, um país onde a mistificação de Fátima serviu para Portugal ser instrumentalizado na luta contra o comunismo russo, um país em que a Igreja e o Estado foram unha com carne na ditadura salazarista. O lastro, como se vê, é poderoso e deixou marcas até hoje intransponíveis na mentalidade portuguesa, num país onde no censo de 2021, 80,2 por cento das pessoas responderam ser católicas (números que podem também não ser indiferentes ao medo da Pandemia Covid 19).
Os líderes políticos portugueses exultaram com a JMJ porque sabem que o poder desta, num país assim, os fortalece sempre e rende votos. Marcelo Rebelo de Sousa está no seu reino natural, ele que não quis dar o divórcio à mulher porque o casamento católico era indissolúvel, que é contra o aborto e a eutanásia, traves da Igreja, como a condenação da homossexualidade, a proibição da ordenação de mulheres e o dogma da virgindade de Maria, o o grande conceito machista do Ocidente cristão, sem esquecer o dogma da infalibilidade papal, essa manifestação absolutista, cesarista e ditatorial do Vaticano. António Costa, não sendo católico, é um homem habilidoso que dá para todos os lados, só precisa ver uma vantagem política.
As próximas JMJ são na Coreia do Sul, essa lança do Ocidente cristão na Ásia, com a Igreja Católica a tentar mais um zénite evangelizador num continente de onde foi expulsa há séculos por causa desta sua natureza intrusiva, tentando sempre conquistar o outro, neste caso o budista, a religião maioritária do país. Uma missão que dificilmente o Ocidente cristão admitiria hoje por parte de uma religião ecuménica, muçulmana ou judaica, ou a pacífica budista, que quisesse ter a mesma natureza evangelizadora intrusiva.
Apetece lembrar os Irmãos Karamázov de Dostoievski em que Jesus Cristo regressa à terra e é detido pelas autoridades eclesiásticas, pelo Grande inquisidor, que lhe diz na prisão que a Igreja se organizou muito bem sem ele e que só a prejudica com as suas ideias revolucionárias, acabando de novo executado.