CGTP condecorada por Marcelo ainda resistiu ao processo de democratização a 26 de Novembro de 1975
“A situação político-militar não está clarificada e a sua evolução está estreitamente ligada à vigilância das massas trabalhadoras nos seus locais de trabalho e no reforço da sua unidade e organização na luta pela defesa das conquistas alcançadas”, lê-se num comunicado do Secretariado Nacional da CGTP do dia 26 de Novembro de 1975, logo a seguir à alegada tentativa de golpe de Estado do PCP e das forças esquerdistas.
“O Secretariado da Intersindical Nacional considera fundamental que as massas trabalhadoras não desmobilizem na sua luta pela defesa das conquistas alcançadas, que redobrem as iniciativas tendentes ao esclarecimento da situação político-militar”, acrescenta o comunicado.
O documento prova que a CGTP não baixou os braços no 25 de Novembro de 1975 e ainda tentou inverter o processo de democratização e o domínio político-militar dos moderados Ramalho Eanes e Jaime Neves, estes com o apoio no campo partidário do PS e do PSD, sobretudo do primeiro.
A CGTP foi condecorada em 4 Agosto de 2021 com a Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assinalando os 50 anos da central sindical que se cumpriram em 10 de Outubro 2020. A sugestão ao Presidente da República foi feita pelo primeiro-ministro, António Costa em Outubro 2020, “pelos serviços prestados ao país” pela CGTP.
Na cerimónia que decorreu no Palácio de Belém, a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, lembrou a luta da CGTP “contra o fascismo” (passando ao lado, naturalmente, do papel da central sindical no 25 de Novembro), e referiu que a condecoração se destina “a todas essas gerações de dirigentes sindicais, ativistas sindicais, trabalhadores, que contribuíram ao longo destes 50 anos para tudo em termos de transformação da nossa sociedade”.
A Ordem do Infante D.Henrique, uma das mais importantes condecorações, foi criada em 1960, aquando do V Centenário da morte do Infante D. Henrique e visa distinguir a prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro, e serviços na expansão da cultura portuguesa, da sua História e dos seus valores.
A UGT também já foi condecorada com a Ordem de D. Henrique em 2018 e com a Ordem de Mérito em 2009.
A CGTP também recebeu a Ordem de Mérito em 1995.
Nota: O comunicado da CGTP-IN datado de 26 de Novembro de 1975 tem o seguinte teor:
“O país vive horas extremamente graves, cujas causas, no essencial, se inserem na ofensiva contra-revolucionária das forças de direita, nomeadamente através de saneamentos contra militares revolucionários e nas tentativas de desmantelamento de unidades militares com provas dadas ao serviço dos anseios das massas trabalhadoras e do avanço da Revolução.
Mais uma vez a classe operária e o povo trabalhador responde de forma corajosa a toda esta ofensiva e demonstra não ser possível desprezar a sua combatividade e firmeza revolucionárias.
A situação político-militar não está clarificada e a sua evolução está estranhamente ligada à vigilância das massas trabalhadoras nos seus locais de trabalho e no reforço da sua unidade e organização na luta pela defesa das conquistas alcançadas.
Os últimos acontecimentos políticos não devem impedir que a classe operária, camponesa, soldados e marinheiros, massas populares em geral, continuem a lutar contra o fascismo, pelo avanço da Reforma Agrária, pela defesa das nacionalizações, contra os saneamentos à esquerda, pela formação de um governo ao serviço das massas populares.
O Secretariado da Intersindical Nacional considera fundamental que as massas trabalhadoras não desmobilizem na sua luta pela defesa das conquistas alcançadas, que redobrem as iniciativas tendentes ao esclarecimento da situação político-militar, que reforcem e defendam a sua organização de classe e que se mantenham firmemente vigilantes contra todo o tipo de manobras provocatórias”.