“Temos a oportunidade de viver melhor e mais tempo se compreendermos os factores exógenos da Doença de Alzheimer”
A Professora Raquel Seruca, vice-presidente do IPATIMUP, escreve um artigo científico para o Objectivo sobre como diminuir o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer.
“A Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, cuja prevalência está a aumentar com o envelhecimento da população. Dados recentes indicam que em 2050, a prevalência de demência irá duplicar na Europa e triplicar em todo o mundo.
As principais características da doença de Alzheimer (deposição no cérebro de placas beta-amilóides e emaranhados neurofibrilares) aparecem numa fase pré-clínica, quando os déficits cognitivos ainda não são aparentes.
O risco de doença de Alzheimer está entre 60 a 80% dependente de fatores hereditários, designadamente alterações no gene APOE, o gene que tem a associação mais forte com a doença. É um factor que não podemos alterar.
Mas temos a oportunidade de retardar esta fase pré-clinica e viver melhor e mais tempo se compreendermos os factores exógenos que podem influenciar a progressão da doença.
Estudos e ensaios recentes com base no comportamento e estilo de vida sugerem benefícios cognitivos em indivíduos com doença de Alzheimer através de dois factores chave: a qualidade de sono e a microbioma intestinal.
Começando por este último factor, o microbioma humano tem um efeito profundo na saúde geral. Através dos estudos efectuados foi possivel associar que o tipo de microorganismos que vive no intestino participa de uma forma indirecta no desenvolvimento da Doença de Alzheimer.
Num estudo conduzido pelo Instituto Centro San Giovanni di Dio Fatebenefratelli, em Itália, demonstrou-se que os lipopolissacarídeos de membranas das bactérias intestinais e certos ácidos gordos de cadeia curta causam inflamação e uma maior incidência de placas amilóides no cérebro.
Foram encontradas menos placas nos participantes com ácidos gordos protetores. A amostra envolveu 89 participantes com idades entre os 65 e 85 anos. Os resultados sugerem a possibilidade de manipulação da microbiota intestinal como medida de prevenção ou adiamento dos sintomas na doença de Alzheimer.
No que se refere à qualidade do sono, há muito que há evidência de que a escassa duração do sono está associada à Doença de Alzheimer e a outras condições neurodegenerativas.
Um estudo de 2021 publicado na Nature Communications, com uma amostra de 7.959 pessoas (50, 60 e 70 anos). demonstrou que os padrões de saúde e sono tinham influência no risco de demência associada à Doença de Alzheimer.
Os indivíduos que dormiam seis horas ou menos horas por noite tinham um risco 30% maior de desenvolver demência do que aqueles que dormiam sete horas. O estudo excluiu outros factores, como perturbações mentais (ex. depressão) e factores sociodemográficos e cardiometabólicos”.
Raquel Seruca, MD, PhD
Vice-president of IPATIMUP
Head of EPIC research group of i3S
Affiliated Professor of Medical Faculty of Porto