E agora PSD?
Muitos portugueses lembraram-se de Santana Lopes e das suas trapalhadas no governo em 2005 – o que na altura deu a Sócrates a maioria absoluta — e correram a votar útil no PS. Quase todos sem esforço. Afinal, António Costa é de uma família espiritual de esquerda e até tem acarinhado um dos candidatos à sua sucessão, ainda mais à esquerda que ele: Pedro Nuno Santos, o homem que em 2013 queria colocar a classe média e média altar a pagar a crise através das suas poupanças.
Na verdade, Rui Rio é ainda pior do que o pior de Santana Lopes. As trapalhadas prometiam, com Rio sem tino, desbragado, incoerente, contraditório, patético, tirânico. Vale o que vale mas é bom lembrar o que alguns laranjinhas já lhe chamaram, “mesquinho”, “pateta arrogante”, “cobarde” , “medíocre”, “fascistóide” (do calibre do nazizinho da Rosinha do nosso contentamento). O que fez na conferência de imprensa da noite das eleições, respondendo em alemão a um jornalista que questionou se se demitia da liderança laranja, revelou, até no final de uma história política ridícula, os seus maus bofes.
Além de Rio, também o seu governo prometia tempos negros com a advogada Mónica Quintela na Justiça, David Justino na Educação, Ricardo Leite Pereira na Saúde, Isabel Meirelles em pasta a atribuir, talvez Salvador Malheiro e Chicão do CDS na Defesa, se os laranjas precisassem dos votos do partido do Largo do Caldas, entretanto naufragado. No Parlamento, os deputados que escolheu são quase todos maus
A forte agravante de Rio em relação a Santana Lopes, é que Rio não ia ser o menino guerreiro trapalhão mas ingénuo e de boa índole, até suscitando simpatias na esquerda (Jorge Sampaio gostava de desabafar com ele). Rio, um homem retorcido por dentro, vinha para crispar o país, sedento de sangue contra juízes e jornalistas — os dois poderes independentes que, apesar das limitações, se mantêm — Polícia Judiciária e trabalhadores da TAP, sem perceber as verdadeiras reformas a fazer e os verdadeiros interesses e corporações a desmontar, na Saúde, Educação, também na Justiça.
O PSD deve fazer uma introspecção profunda se quiser voltar a ser governo. E responder à pergunta: como foi possível insistir em Rui Rio e na sua equipa em 2022?
Nas eleições de 2011, Passos Coelho cumpriu as metas razoáveis como líder com cabeça, tronco e membros. Também teve uma equipa com bons valores individuais para mostrar, que depois confirmaram as expectativas no executivo e estiveram na origem dos bons resultados da coligação Portugal à Frente nas eleições de 2015 (Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira, Nuno Crato, Carlos Moedas, Bruno Maçães, Miguel Morgado, Francisco José Viegas).
O segredo é este, um líder que esteja na fasquia do razoável e boas equipas.
Para candidatos laranjas já medalhados com boas prestações executivas ou vitórias eleitorais é tudo mais fácil, como é o caso de Carlos Moedas, um dos braços direitos de Passos, comissário europeu, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian e vitorioso no difícil combate em Lisboa nas autárquicas de Setembro, o que não dispensa, porém uma equipa valiosa (o que Moedas não tem agora em Lisboa mas pode vir a ter como candidato à liderança laranja)
Quem vai ser o próximo líder do PSD? Depois da derrota de Santana Lopes e da maioria absoluta de Sócrates, avançaram Marques Mendes e Luís Filipe Menezes. Ambos caíram sem sequer disputarem as eleições a Sócrates. Ferreira Leite perdeu depois em confronto directo com o líder socialista, nas eleições legislativas de 2009 (com Sócrates, na altura, com um ciclo político, mais curto que o de António Costa hoje).
Quem suceder a Rui Rio deve ser um líder para queimar. Carlos Moedas tem a sua hora marcada para 2025. Antes, o edil de Lisboa tem de mostrar trabalho na capital e conseguir formar uma equipa com valores.
Bom tarde
Com toda a franqueza discordo de boa parte do seu comentário.
No artigo em análise a única frase que faz algum sentido é – sic “O segredo é este, um líder que esteja na fasquia do razoável e boas equipas”.
Verdade. Substituindo os termos razoável por honesto e outos por combativo não trapalhão nem ingénuo, mas de boa índole.
Rui Rio não será com certeza uma pessoa perfeita, mas já demonstrou ser eficáz, rigoroso e honesto na liderança da coisa pública. Epítetos, conjecturas, adjectivação conspirativa, são apanágio de uma comunicação ela sim tendenciosa, maliciosa e nada, mas mesmo nada profícua.
O socialismo é tão mais nobre quanto menos favoritismo houver no seu resgate partidário; A sua crónica é uma contradição absoluta e uma apologia ao (não) socialismo embusteiro de Sócrates & Companhia, S.A. de que António Costa nunca se demarcou claramente como era sua obrigação e são várias as negociatas “permitidas” ou ignoradas pelo seu (des)governo.
Quem precisa de refletir sobre a sua “tendinite” é você.
Meu caro tem toda a legitimidade tal como eu para pensar diferente, mas enquanto jornalista tem por dever e obrigação de ser intelectualmente recto e isento na análise da coisa pública e se mesmo assim a sua a vontade em maldizer for muita faça-o em apontamentos pessoais ou em conversa de amigos não borrifando para o leitor ensaios de “lavagem cerebral”.
Cumprimentos.
F. Lopez