E aí está o Catavento de Belém
Umas vezes Marcelo Rebelo de Sousa diz que é o primeiro responsável no país, o que dito assim, e não mero representante de todos os portugueses, parece uma interferência na esfera governativa.
O Presidente da República até já assumiu no final de 2020 todos os erros na luta contra o Covid, o que é o mesmo que dizer que vivemos num regime presidencialista e que quem governa é ele.
Outras vezes, Marcelo Rebelo de Sousa diz que quem manda é o governo e chuta para canto. Como aconteceu no domingo quando disse, numa visita a Santarém, sobre a política Covid: “Naquilo que depender do Presidente da República não se volta atrás. Já não voltamos para trás. Não é o problema de saber se pode ser, deve ser, ou não. Não vai haver. Comigo não vai haver”.
“Comigo não vai haver”, diz Marcelo, para de seguida fazer este pequenino apontamento de fino recorte florentino: mas “quem tem poder para isso e é o Governo”.
Umas vezes Marcelo que confinar a eito.
Outras vezes diz que já basta e quer desconfinar.
Razão tinha Passos Coelho quando em 2014, recusava o seguinte perfil de candidato presidencial a ser apoiado pelo PSD, que fontes do partido na altura asseguraram ser pronto-a-vestir contra o actual inquilino de Belém: “o Presidente deve comportar-se mais como um árbitro ou moderador, movendo-se no respeito pelo papel dos partidos mas acima do plano dos partidos, evitando tornar-se numa espécie de protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político” (o sublinhado é nosso)
Quem conhece bem Marcelo, que está sempre entre Deus e o Diabo — como um dia disse Paulo Portas — sabe que o professor tem sempre alguma fisgada.
Marcelo quer que o governo desconfine para depois, se as coisas correrem mal, lhe cair em cima, com argumentos fáceis de que o executivo desconfinou mal ou continuou a dar ordens e contraordens, desorientando os portugueses.
Vai ser um Verão Quente Covid.