Faltam médicos mas cursos de medicina são reprovados

A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) reprovou nos últimos três meses três propostas de cursos de medicina em universidades privadas e públicas, designadamente na Universidade Lusófona, Universidade de Évora e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Numa altura em que PSD e PS são sensíveis ao problema da falta de médicos – o que não aconteceu durante décadas, com estes partidos sequestrados pelo poder corporativo da Ordem dos Médicos – era necessário um novo modelo de aprovação de cursos que desse a primazia da aprovação de novos cursos ao poder político e não à (A3ES).
O sector privado da saúde contrata hoje milhares de médicos, retirando-os do Serviço Nacional de Saúde. A maioria dos médicos querem trabalhar nos grandes centros urbanos, com destaque para Lisboa e Porto, e conseguem-no porque a procura é elevada. O SNS contrata médicos no estrangeiro. O Estado paga hoje salários muito altos aos médicos do SNS.
Tudo isto podia ser evitado com uma maior oferta de médicos.
Ao longo dos últimos anos, para satisfazer os interesses dos médicos já no activo, os portugueses tiveram menos e pior saúde. Também saúde mais cara. Porquê? Porque num mercado com pouca concorrência, o utente é pior tratado, tem menos poder e paga mais caro.
Ao longo de muitos anos, milhares de jovens com classificações excelentes e vocação para fazerem o juramento de Hipócrates foram impedidos de entrar em cursos de Medicina. Só algumas centenas tiveram hipótese de cumprir o sonho em universidades estrangeiras, desembolsando milhares de euros.
Se a justiça funcionasse em Portugal, estes jovens deviam, aliás, interpor acções judiciais contra o Estado português por ter cedido aos interesses da Ordem dos Médicos em vez de prosseguir o interesse público e impedido que cursassem medicina.