O problema de Gouveia e Melo é a farda
Não há país europeu com tanto fascínio pelas fardas militares como Portugal: os heróis do 5 de Outubro, Pimenta de Castro, Sidónio Pais, Gomes da Costa, os Capitães de Abril, Ramalho Eanes, agora Gouveia e Melo que pode ser candidato a Belém em 2025…
Portugal está sempre mais distante das democracias maduras da Europa, onde a sociedade civil e a cidadania são fortes, e mais próximo da América Latina.
Imagine-se que Gouveia de Melo até ganhava Belém.
O almirante, que é um homem que pensa, já disse que Portugal não precisa de um novo D. Sebastião mas sim de estratégia, competência, liderança e equipas galvanizadas.
Há aqui um contrasenso.
Quando Portugal vai buscar os homens de farda é para se anular, para se deixar estar, para se deixar comandar. Não há aqui equipas interventivas e muito menos galvanizadas.
Depois, há um reverso.
Os D. Sebastião normalmente não são grandes valores, como se viu logo em Alcácer-Quibir…
E se são bons, o que é raro, há o perigo de favorecerem a corporação militar de onde vêm, como se viu com Ramalho Eanes, que queria continuar com o poder das casernas pelos anos 1980 (Conselho da Revolução incluído). É um bom exemplo de homem impoluto, certamente como Gouveia e Melo, mas que quis pisar a sociedade civil por causa dos interesses castrenses…
Imagine-se que Gouveia e Melo em Belém não resistia a favorecer o poder da Marinha?
Teríamos, além do mais, um país a fazer lembrar o tempo de antigamente, do Almirante Américo Tomás (outro Almirante na Presidência da República) e do contra-almirante Henrique Tenreiro, o homem dos bacalhaus.