Gouveia e Melo, o Sidónio do século XXI
Sidónio Paes chegou ao poder de espada e cavalo branco em 1917 num fogacho de uma parte do exército, os seus cadetes, e teve apoio popular. Militar com pergaminhos republicanos, de grande matemático, ministro, embaixador em Berlim, mirifico salvador do país contra a entrada de Portugal na I Guerra Mundial.
Mas bastou um ano para o sonho se transformar em pesadelo. Sidónio Pais não tirou o país do conflito, não tinha um programa político e económico consistente e a crise económica e social agravaram-se. A sopa dos pobres foi só um pequeno remendo num dilúvio de problemas.
Sidónio era germanófilo e não se empenhou como devia na luta contra Berlim e Viena. O resultado foi o desastre militar da batalha de La Lys. Sidónio acabou assassinado em 1918 por um anarquista.
A maioria dos militares também não estava com Sidónio. Havia quem criticasse o aproveitamento político, o repentismo e um ego e vaidade desmesurados. Não foi por acaso que Fernando Pessoa lhe chamou o presidente-rei.
Cem anos passados, surge outro fogacho sidonista, o Almirante Gouveia e Melo, condutor de submarinos, herói da vacinação Covid, guindado por um golpe palaciano urdido pelo governo de António Costa a Chefe de Estado Maior da Armada para se apoderar da popularidade do almirante, com o apoio de um país ao mesmo tempo medroso do vírus e milagrosamente agradecido a um homem garboso, que se limitou a mostrar a farda e ser obedecido, como aconteceu aliás a Sidónio e aos seus cadetes em 1917.
Gouveia e Melo diz que não vem como D. Sebastião mas esta desconstrução faz parte do próprio mito face a uma personalidade sobretudo egocêntrica.
Gouveia e Melo vem para revolucionar a Marinha, cumprindo outro romântico desígnio que é o mar que nunca se cumpriu em Portugal por falta de engenho e arte e até reformar o país a partir do Palácio de Belém em 2025, como Presidente da República.
Mas, típico do fogacho sem consistência, a ascensão de Gouveia e Melo tem tudo para trazer o gérmen do seu fracasso.
Não houve nenhum chamamento da corporação militar para o cargo. Pelo contrário, os problemas de relacionamento de Gouveia e Melo com os seus pares na Marinha são conhecidos antes da Pandemia e deram origem a vários processos internos. O próprio Chefe do Estado Maior da Armada exonerado, Mendes Calado, sai desgostoso do lugar, e vários mlitares estão solidários com ele.
O longo processo politico da Covid 19 ainda vai no adro. O medo do vírus pode transformar-se de um momento para o outro em revolta quando a análise retrospeciva, imparcial e objectiva, mostrar uma realidade bem diferente, um Livro Branco do Covid, como foi feito do comunismo e do maoísmo, assente na desnecessidade do confinamento e das restrições draconianas que foram efectuadas, uma espécie de La Lys ao contrário, mas com o mesmo resultado: demolir heróis com os pés de barro, seja ele Sidónio Paes ou Gouveia e Melo.