Há males que vêm por bem
Em matéria de processos por corrupção, PS e PSD estão praticamente quites. Assim, é provável que o eleitor dê o voto ou o negue a um destes partidos por causa desta matéria.
Em matéria de “suborno eleitoral”, com as promessas sucessivas de regalias para os portugueses, os dois grandes partidos também estão empatados. É provável que a maioria dos eleitores não se deixe convencer pela demagogia de um ou outro partido.
O que sobra? A novidade, a dinâmica de campanha e o voto útil
Em todos os factores, a AD de Montenegro parece estar em vantagem.
Na dúvida, é provável que um eleitor vote na AD pelo cansaço de dez anos de poder socialista.
Aliado ao factor novidade, a AD tem um naipe de valores para mostrar em campanha que pode superar o do PS, criando uma forte dinâmica, muito se devendo às figuras do CDS, aliás, a grande mais valia da AD, já que em termos matemáticos os democratas-cristãos (ou populares) não elegeram deputados nas últimas eleições e valem zero.
É evidente que há muitas fraquezas na AD. A principal é a falta de carisma de Luís Montenegro, penalizando-o nas sondagens.
As adversidades também são de peso. Ter o Chega à perna é o maior. Mas também é aqui que pode surgir um trunfo para Montenegro, seguindo o provérbio de que há males que vêm por bem: o voto útil.
Quanto mais o Chega subir nas sondagens, mais a AD pode conquistar voto útil. É como o efeito Le Pen em França (a Frente Nacional tem excelentes sondagens mas nas urnas fica sempre abaixo).
Assim, é possível que tanto a AD como o PS possam ganhar as eleições.
Dando como certo que não há maioria de esquerda para governar e fazer uma terceira geringonça, o mais provável será uma gerigonça à direita com um acordo da AD com o Chega (talvez não escrito, como na I geringonça de esquerda).
A questão é saber se Luís Montenegro se tornará logo primeiro-ministro, se a AD ganhar, ou terá de esperar que o Presidente da República indigite o líder socialista vencedor, para depois este governo socialista ou “geringonço” cair no Parlamento (como aconteceu a Passos Coelho em 2015) e ser a vez de Montenegro formar o seu executivo (como António Costa formou em 2015).