Maior especialista em Eça defende restos mortais do escritor em Santa Cruz do Douro
Alfredo Campos Matos, o maior especialista em Eça de Queirós, com vasta obra de investigação publicada sobre o escritor, defendia que “em nenhum outro local de Portugal repousariam melhor os seus restos mortais do que nesse “solo eterno e de eterna solidez” como escreveu no último parágrafo d’ A Cidade e as Serras”. (in Dicionário de Eça de Queirós, Editorial Caminho, Lisboa 2005).
Os restos mortais de Eça de Queirós estão hoje sepultados no cemitério em Santa Cruz do Douro, concelho de Baião e a polémica actual prende-se com a possível transladação para o Panteão, defendida por alguns descendentes do escritor e pelos órgãos de soberania mas rejeitada por outra parte da família de Eça, que comunga da opinião de Campos Matos.
O escritor referia-se em “A Cidade e as Serras” às terras serranas e ficcionadas de Tormes, onde tinha na vida real uma casa com o mesmo nome, herança da mulher, com cujo património se fundou a Fundação Eça de Queirós em 1970: a Casa de Tormes.
As ossadas de Eça de Queirós encontravam-se no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, quando foi feita a sua transladação em 1989 para o cemitério de Santa Cruz do Douro, perto da Casa de Tormes.
É também Campos Matos a fazer no mesmo Dicionário de Eça de Queirós, o relato desta cerimónia, que contou com poucas individualidades políticas e religiosas e mesmo assim, em representação do Presidente da República, Mário Soares, e do Cardeal Patriarca, António Ribeiro.
É caso para dizer que a Lisboa política, bem como parte dos seus descendentes, deixou partir Eça em 1989 e agora quer recuperá-lo e colocar as suas ossadas no Panteão.
Escreve Campos Matos: “a 15-9-1989 os despojos mortais de Eça são transportados para uma pequena capela da Basílica da Estrela pela Agência Barata. Às 10.00 h monsenhor José Agostinho Moita, secretário particular do Cardeal Patriarca de Lisboa, oficia missa de sufrágio com homilia, perante a urna, assistindo de um lado os familiares do escritor, netos e bisnetos e a senhora de Tormes, D. Maria da Graça Salema de Castro. Do outro lado as personalidades oficiais: o representante do presidente da República, comandante da Marinha Sá Gouveia, a secretária de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, o presidente do Município de Lisboa, Nuno Abecassis e o seu congénere da Câmara de Baião. Monsenhor Moita procedeu à comunhão, de que participou a família de E. Q. e algumas pessoas da reduzida assistência ao acto”.