Mais um sinal da crise do Estado
É o mau funcionamento do Estado que está à vista quando protestam por tempo muito longo trabalhadores da sua estrutura central.
Nos países mais desenvolvidos da Europa raramente se veem protestos destes, o que é sinal da sua boa governança, em harmonia e conciliação com os interesses destas classes que integram o Estado.
As manifestações e protestos dos polícias já duram há várias semanas e colocam a segurança do país em causa, como aconteceu no jogo, entretanto adiado, entre o Famalicão e o Sporting a 3 de Fevereiro de 2024.
Os funcionários judiciais estão em greve há meses.
Os professores ainda não conseguiram resolver a questão da contagem do tempo de serviços, apesar de greves e manifestações sucessivas durante o ano de 2023.
Apesar do Governo estar demissionário, foi a gestão do governo de maioria absoluta do PS que motivou todos estes problemas, o que aumenta as suas responsabilidades porque não se pode queixar de depender de outros para os resolver.
Ainda para mais, o primeiro-ministro António Costa tinha obrigação, como ministro da Justiça e da Administração Interna que foi nos governos de António Guterres e José Sócrates de gerir melhor estes assuntos.
Há, claro, a hipótese de Costa estruturalmente não os saber nem querer gerir a contento ou porque tem uma atitude sobranceira que prejudica os resultados no diálogo com os sindicatos, como tem acontecido com os professores, ou porque tem um “parti pris” com alguns agentes do Estado, como poderá ter com as forças de segurança.
Há 20 anos, quando Costa foi MAI (2005-2007), o país também assistiu a fortes protestos da PSP por melhores regalias.
Quando um dirigente de um sindicato da polícia, António Ramos, disse em 2006 que “enviámos o anterior primeiro-ministro para Bruxelas, com certeza que mais depressa enviamos este primeiro-ministro para o Quénia”, numa referência a José Sócrates e às suas férias passadas no Quénia, foi alvo de um processo disciplinar e aposentado compulsivamente por despacho de José Magalhães com a concordância de António Costa (em 2014 os tribunais deram razão a António Ramos e reintegraram-no na PSP).