Marcelo: votar na Pfizer ou na Moderna?
Marcelo Rebelo de Sousa, sempre criativo, disse que mais de 80 por cento dos portugueses que se vacinaram é como se tivessem votado no sistema, contra os negacionistas do Covid ou os relapsos à vacina.
Marcelo, que é um fanático dos temas da saúde, omite propositadamente que muitos que tomaram a vacina (e votaram) não foi por convicção. Vacinaram-se cépticos com a sua eficácia e uma maioria significativa receosos das suas consequências. Ainda para mais, há casos por explicar. Só para ir às figuras públicas: Neno, o ex-secretário de Estado João Almeida, Maria Cristina Portugal, Ricardo Samora. Estatisticamente é uma irrelevância, e muitos que “votaram” vacinar-se fizeram-no como andam de avião. Têm medo mas continuam a andar. Muitos vacinaram-se (e votaram), para que o mundo volte a funcionar, exactamente como se vota PS e PSD sem convicção mas a achar que alguém tem de tomar conta da xafarica, ainda que com a governação quase sempre esta piore em vez de melhorar.
Marcelo, sempre único, também disse o seguinte: “Seria mesmo estranho que fosse 100% [de vacinados], isso quereria dizer que estaríamos porventura num regime ditatorial”.
E logo a seguir:
“Mas há uns que ainda não votaram e podem votar. Vão a tempo de votar”, ou seja vacinar-se.
Em que ficamos? É estranho ter 100 por cento de vacinados e viver em ditadura?
Ou é bom viver em ditadura, com toda a gente vacinada, atirando para o ghetto os pelo menos cepticistas da política Covid, PCP, Chega e Iniciativa Liberal (O Bloco de Esquerda está para o Covid e a vacina Covid, como o PCP está para as as questões de género e a homossexualidade: não nos metemos nisso)?
É próprio da criatividade excessiva de Marcelo dar uma volta de 360 graus e morder o próprio pé. Nada de novo. Como dizia Passos Coelho em 2014, o homem é um “catavento de opiniões”. Depende do minuto em que está. Num minuto pode fechar-se em casa quinze dias confinado sem razão, como aconteceu em Março de 2020, no outro minuto marcar seis almoços de rajada no Natal. Num minuto acha que a democracia respira com 20 por cento de negacionistas e relapsos à vacina. No minuto seguinte já acha que é bom viver em ditadura com 100 por cento de vacinados (ou 100 por cento de votos no PS e no PSD).