Merkel escolheu Durão Barroso, um “velho conhecido”, para presidente da Comissão Europeia
Angela Merkel teve uma influência decisiva na escolha de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia em 2004, revela a ex-chanceler alemã na sua autobiografia “Liberdade”, editada em Portugal pela Objectiva.
Merkel lembra que em 2004, um ano antes de chegar à liderança alemã, teve um encontro com o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, no número 10 de Downing Street. “Era primeiro-ministro há oito anos. Conhecemo-nos em 2004, quando ele, social-democrata, e eu, democrata-cristã, unimos esforços para que o então primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt [do Partido Liberal flamengo], não fosse eleito presidente da Comissão, mas José Manuel Durão Barroso”, diz Merkel.
A ex-chanceler alemã recorda que em Novembro de 2005 se encontrou com Durão Barroso, ela recém chanceler e ele presidente da Comissão Europeia: “A visita seguinte ao Parlamento Europeu foi de cortesia e, na Comissão Europeia, encontrei-me com o presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso, um velho conhecido. Ele estava em funções desde 2004. Antes disso, tinha sido primeiro-ministro de Portugal de 2002 a 2004. Na altura, conhecemo-nos num encontro do Partido Popular Europeu (PPE), da união dos partidos europeus democratas-cristãos e conservadores civis, à qual também pertenciam a CDU e a CSU. Eu e Durão Barroso queríamos uma União Europeia com capacidade de ação. Para isso, era urgente um bom resultado nas finanças europeias”.
Na biografia, Merkel também lembra que no Verão de 2008 recusou o pedido de Barack Obama para discursar junto à Porta de Branderburgo, de forma a este imitar John Kennedy em 1961 e ganhar votos na corrida democrata à Casa Branca. O problema não era Obama, por quem Merkel tinha simpatia, considerando que era uma “ideia fenomenal” os EUA passarem a ser liderados por um afro-americano. A questão de Merkel era de princípio.
“– Não – Recusei, não estou de acordo. Caso contrário, onde vamos traçar o limite no futuro? Os candidatos à presidência de outros países que visitam Washington fazem discursos eleitorais à frente do Lincoln Memorial? Pode fazê-lo à vontade em Berlim mas não naquele lugar tão singular” refere na autobiografia.
Obama acabou por fazer o discurso junto à Coluna da Vitória e ainda se encontrou com Merkel, tendo os dois esta singular conversa: À saída, [Obama] perguntou-me: –Tem filhos? Não – respondi. – Mas o meu marido tem dois. — Eu e a minha mulher, a Michelle, temos duas filhas, a Sasha e a Malia. Sem elas, não conseguiria nada disto — declarou. Falei-lhe de Joachim. — O meu marido continua a trabalhar na área das ciências mas apoiou o meu percurso na política desde o primeiro momento”, conta Merkel no livro.