O maior deslize da vida de Cavaco Silva
Cavaco Silva elogiou a estabilidade do Banco Espírito Santo e nem um mês depois o BES ruiu e foi desmantelado.
Foi no dia 21 de julho de 2014, uma segunda-feira, que o então Presidente da Republica, Aníbal Cavaco Silva, em visita oficial à Coreia do Sul, a primeira de um Chefe de Estado português a este país asiático, disse aos jornalistas o seguinte:
“O Banco de Portugal tem sido perentório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar no BES, dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa”.
“E eu, de acordo com informação que tenho do próprio Banco de Portugal, considero que a atuação do banco e do governador tem sido muito, muito correta”, referiu Cavaco Silva.
Estas declarações de Cavaco foram proferidas um mês após a conclusão da recapitalização do BES, tentativa para manter o banco de pé executada pelo ainda presidente do BES, Ricardo Salgado.
Cavaco Silva foi então criticado por levar muitos portugueses a continuarem a confiar no BES, investindo neste novas poupanças no mês que se seguiu ao fim da instituição bancária.
Cavaco defendeu-se meses mais tarde dizendo que “fez duas declarações sobre o Banco de Portugal e não sobre o BES”.
Na verdade, formalmente Cavaco falou sobre o Banco de Portugal e não sobre o BES mas o facto é que, numa altura em que eram públicos os receios sobre o banco, as palavras efusiantes do Presidente da República convenceram certamente muitos portugueses. Não só por ser o mais alto magistrado da Nação a dizê-las mas por ser um economista, antigo quadro do Banco de Portugal, ex-ministro das Finanças e primeiro-ministro durante dez anos. Não, Cavaco não foi um simples eco da avaliação do Banco de Portugal e do seu governador da altura, Carlos Costa. Fez muito mais do que isso. Foi talvez o seu maior deslize de sempre.
Em dezembro de 2014, em conferência de imprensa na Cimeira Ibero-Americana, no México, Cavaco Silva foi questionado pelos jornalistas sobre as informações de que dispunha quando falou na Coreia do Sul sobre o caso BES, a 21 de julho de 2014
A 3 de agosto, depois de reunir de emergência com o Banco Central Europeu, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, aplicou-lhe uma medida de resolução e anunciou a separação do banco em duas entidades: o chamado banco mau (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os ativos e passivos tóxicos do velho BES, assim como os acionistas) e o banco de transição, que foi designado Novo Banco.