O caniche europeu rosna a valer
A União Europeia faz sempre prova de vida nos direitos humanos quando, politica e economicamente, os danos são escassos, como aconteceu com o desvio do avião da Ryanair para prender o jornalista ucraniano Roman Protasevich.
A União Europeia não faz mais do que o seu dever neste deplorável caso bielorrusso.
O problema é quando amoucha na violação dos direitos humanos porque mais altos interesses económicos e políticos se levantam, como acontece no caso da China e da Síria. E, já agora, também da Espanha com a Catalunha.
Amoucha e acaba por legitimar a linha de argumentos destes países, de que estão a aplicar as leis internas. Exactamente o que disse agora o governo bielorusso quando desviou o avião.
Nestas habilidades diplomáticas, a UE perde a sua face como vanguarda civilizacional porque tem dois pesos e duas medidas. Depende onde está o dinheiro, a força militar ou as conveniências políticas.
A China tem centenas de jornalistas presos, persegue e condena a penas de prisão dissidentes, muitas vezes a coberto de pretensos crimes económicos e de corrupção, e a UE ou cala é “low profile” a condenar.
A UE nunca tomou medidas drásticas contra a China pela condenação a 11 anos de prisão, pelo crime de subversão, do Prémio Nobel da Paz de 2010, Liu Xiabao, que acabou por morrer em 2017.
Como é sabido, muitos países venderam-se a Pequim, com sectores estratégicos incluídos, como acontece com Portugal. E o bazar chinês é cada vez mais essencial numa Europa que cada vez produz menos diversificadamente e vive à mesa dos serviços.
Na Síria, a UE esteve bem na condenação do ditador Bashar al- Assad nos primeiros anos de 2010 até que a Rússia, aliado de Damasco, arregalou os olhos contra a Europa. A luta de Assad contra os extremistas islâmicos fez o resto.
O presidente sírio não prende, mata oposicionistas. Mas a democracia e os direitos humanos no país são rapidamente vendidos no aerópago de Bruxelas. E nem é por grande preço.
Na Catalunha há homens honrados presos, com pesadas penas, por alegada subversão, que não é mais do que delito por defenderem por vários meios a independência catalã.
A questão catalã é, talvez a que fragilize mais a União Europeia no caso bielorrusso. Porque Minsk tem sempre esta pedra interna para atirar a Bruxelas, bem sabendo que esta responde que é uma questão interna de Espanha e da UE.
O governo português aproveitou o caso bielorrusso para aplicar a velha máxima caniche de sempre, sejam rosas ou laranjinhas que governem, forte com os fracos, fraco com os fortes e disparou a valer: “acto de pirataria”, “absolutamente inaceitável”, “parceria com a Bielorrússia está severamente prejudicada.” A vida em Portugal é mesmo assim.
Muito bem