O desastre da política europeia na guerra da Ucrânia

A Europa perdeu por muitos anos o parceiro russo face à política que desenvolveu na guerra da Ucrânia.
Perdeu-se o legado da abertura a Leste de Willy Brandt e da abertura comercial à Rússia desenvolvida por Gerard Schorder e Angela Merkel.
A Europa permitiu a entrada num paradigma de guerra que não deve ser o seu, como a região mais devastada do mundo em conflitos bélicos ao longo dos últimos 2000 anos. O seu papel tem de ser sempre o diplomático. Na guerra da Ucrânia era possível ter seguido essa via, criticando com veemência a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, como foi feito, mas sem cair num excesso emocional pró-ucraniano e diabolização de Vladimir Putin, que deitou tudo a perder como medianeiro para a paz.
Hoje, a Europa está mais do que nunca refém da política intervencionista dos EUA, quer em matéria de segurança e defesa, quer em termos de política económica internacional.
É desafiada por Washington a aumentar a sua contribuição de defesa na NATO, o que muito provavelmente só pode ser feito diminuindo a despesa pública do Estado, o que pode gerar grave instabilidade nos países europeus. A Europa tem um sistema de apoio social que os EUA não têm, não se podendo dar ao luxo de gastar em canhões e ao mesmo tempo em manteiga.
Vê os EUA, com Trump, surgir como uma espécie de “ditador” diplomata que impõe soluções para a paz, o que a Europa nunca quis fazer, mesmo que fosse ao seu modo persuasor e com mentalidade democrática.
E depois da paz, virá certamente, a hegemonia dos EUA na Ucrânia em termos militares.
Assiste também a Europa ao início do domínio económico dos EUA na Ucrânia, como Washington também fez na Ásia após a II Guerra Mundial.
No decurso da cimeira de Segurança em Munique, esta semana, os representantes norte-americanos fizeram eco das pretensões de Trump que quer ter acesso às terras raras na Ucrânia, um negócio multimilionário.
A resposta de Vladimir Zelensky perante esta exigência norte-americana foi exemplar do desastre da política europeia: “Os americanos ajudaram mais, e, portanto, os americanos devem ganhar mais. E devem ter essa prioridade, e vão ter”.
Ou seja, de nada serviu a política de entrega emocional total à Ucrânia feita pela esmagadora maioria dos líderes europeus.