O país dos milagres falhados
“Será mesmo um milagre? É bom que pensem que sim” disse Marcelo Rebelo de Sousa aos portugueses em 16 de abril de 2020 sobre o controlo dos casos de Covid-19 em Portugal, por ocasião da terceira instauração de estado de emergência no país.
O Presidente explicou a seguir que o milagre é feito de trabalho e sacrifícios, envolvendo um esforço nacional colectivo. Mas o facto é que Rebelo de Sousa, um presidente ferverosamente católico, alimentou a tese do milagre e aconselhou os portugueses a acreditarem nele.
Como é sabido, não houve nem milagre, nem o trabalho e sacrifícios evitaram em janeiro de 2021 uma onda Covid-19 que vitimou centenas de portugueses, cerca de 90 por cento idosos com mais de 70 anos.
Em Portugal é frequente classificar como milagres realidades positivas do momento que ou estão disfarçadas ou depois se traduzem em resultados negativos mais à frente.
O milagre de Tancos assenta na preparação relâmpago em apenas três meses de 1916, no campo militar de Tancos, de cerca de 20 mil soldados para lutarem na I Guerra Mundial. Ora, a participação de Portugal no conflito foi desastrosa. Na batalha de La Lys, na Flandres, dois anos depois, morreram ou foram feitos prisioneiros cerca de 8000 soldados portuguesees. A falta de preparação dos portugueses não explica tudo mas é um dos factores que contribuiu para o desastre.
O milagre financeiro de Salazar, das contas públicas equilibradas escondem artíficios contabilísticos do próprio Presidente do Conselho e é realizado à custa da pobreza da população, numa altura em que na Europa e sobretudo nos EUA, a preocupação é aumentar o rendimento das pessoas e melhorar as suas condições de vida.