O prognóstico de Vasco Gonçalves para as primeiras eleições após o 25 de Abril: ganha o MDP/CDE
O então primeiro-ministro do IV Governo Provisório, Vasco Gonçalves, fez de véspera, em conversa com o ministro sem pasta, Mário Soares, um prognóstico lapidar dos resultados para a Assembleia Constituinte, que se realizaram em 25 de Abril de 1974: o MDP/CDE seria o partido mais votado, em segundo lugar ficava o PCP e em terceiro “talvez” o PS. “O resto quase não conta”, ou seja, nem o PPD, nem o CDS deviam ter votos que se vissem …
Foi no final da reunião do Conselho de Ministros de 24 de Abril de 1974 que Vasco Gonçalves se abeirou de Mário Soares para conversarem sobre as eleições do dia seguinte. É Mário Soares quem conta o episódio no livro “Um político assume-se”, editado em 2011, pelo Círculo de Leitores/Temas e Debates.
“Na véspera houve um Conselho de Ministros a que assisti. Era o dia de reflexão. Por mim estava tranquilo. O ministro da Administração Interna, Costa Brás, teve um papel fundamental para que as eleições fossem realmente livres, fiscalizadas, com cadernos eleitorais rigorosos. Impecáveis, ao fim de 50 anos de pseudoeleições da Ditadura!
Vasco Gonçalves, no fim do Conselho, quis conversar um pouco comigo. Perguntou-me como via as eleições do dia seguinte. Respondi-lhe estar convencido de que iam ser verdadeiramente livres e isentas. ‘E quanto aos resultados?’, insistiu. ‘Estou moderadamente otimista’ ‘Eu também’, disse-me ele. ‘O MDP/CDE vai ser o maior partido, depois o PCP e o PS talvez fique em terceiro lugar. O resto quase não conta’.”
Os resultados das eleições para a Assembleia Constituinte, que foi o primeiro sufrágio livre após o 25 de Abril, foram os seguintes: PS – 37,9%; PPD – 26,4%; PCP – 12,5%; CDS – 7,65%; MDP/CDE – 4,12%; FSP – 1,19%; UDP – 0,79%
A taxa de afluência às urnas foi de 91,66%, nunca mais alcançada em eleições. Estavam inscritos 6 231 372 eleitores e votaram 5 711 829.