O que não entra pela porta, entra pela janela
O país está hoje num impasse, como em 1910 e 1974.
A instauração da república e o fim da ditadura foram levadas a cabo por militares.
Hoje, é impossível uma mudança feita por militares.
Dentro das grandes imperfeições da democracia está a eternização no poder de partidos e agentes políticos, que vivem de regras do sistema político e eleitoral praticamente inalteráveis que aprovaram e lhe conferem sistematicamente vantagem.
Portugal é um bom exemplo destas imperfeições. Foram o PS e o PSD, que alternam no poder há 50 anos, quem construiu o actual sistema político que os favorece, onde só os partidos podem apresentar listas. Na verdade, listas de independentes continuam vedadas nas eleições legislativas, só sendo permitidas nas eleições autárquicas.
Soluções mais imaginosas para o sistema eleitoral, no limite a escolha por sorteio de um escol de candidatos a governantes, depois sufragados nas urnas, nunca foi ensaiada.
Quando o sistema político não se regenera fica sujeito a ondas de choque imprevisíveis.
O que não entra pela porta, entra pela janela de uma forma muito mais “traumática”.
Em 10 de março, esse “trauma” pode chamar-se Chega, catalisando um voto de protesto, à direita e à esquerda, elevando-o a mais de 20 por cento dos votos.
Esta votação do Chega pode causar estragos profundos mas, mais tarde ou mais cedo virá a verdadeira regeneração do regime político, com novos partidos e novos agentes políticos.