Os dinheiros de Macau para o PS, PSD e CDS
Manuel Magalhães e Silva, Secretário da Justiça do Governo de Macau entre 1988 e 1990, homem próximo de Jorge Sampaio, hoje advogado de Luis Filipe Vieira e Eduardo Cabrita, disse em entrevista ao Público de 30.07.22 que todos os partidos receberam dinheiro de Macau, com excepção do PCP.
É matéria, espera-se, para uma Comissão de Inquérito na Assembleia da República.
Desde o caso do fax de Macau nos anos 1980, quando uma empresa alemã exigiu de volta ao governador de Macau Carlos Melancia o suborno de 50 mil contos por não ter ganho o concurso de consultoria ao novo aeroporto internacional de Macau, que se suspeita que o PS recebeu financiamentos de Macau, ou através de esquemas de corrupção como este ou através de comissões das receitas do jogo do então território português.
Rui Mateus, no seu livro “Contos Proibidos”, diz que Mário Soares sabia dos dinheiros recebidos de Macau. Este sempre negou e ia aos arames quando lhe falavam do assunto.
Em relação aos financiamentos ao PSD e ao CDS, a matéria é nova.
Mesmo em relação aos financiamentos ao PS, o caso centrou-se sempre em Mário Soares mas o facto é que este já não era secretário-geral do PS desde 1986. Sucedeu-lhe Victor Constâncio e depois Jorge Sampaio.
Do ponto de vista penal, os crimes podem estar prescritos mas o Ministério Público deve tomar uma posição.
Curiosamente, Magalhães e Silva foi até Setembro de 2021 membro de Conselho Superior do Ministério Público (CSMP), de onde saiu após polémica entrevista em defesa de Luís Filipe Vieira, atacando o Ministério Público.
Magalhães e Silva foi também criticado por, na qualidade de membro do CSMP, ter atribuído má classificação a Rosário Teixeira, um dos procuradores do caso Marquês, que envolve José Sócrates. Antes, Magalhães e Silva criticara publicamente a actuação do MP neste caso judicial
Magalhães e Silva é uma figura política exótica.
Na entrevista ao Público diz que foi António Costa quem lhe indicou os juristas que levou para o seu gabinete de Macau, nomes como Eduardo Cabrita, Pedro Siza Vieira e Diogo Lacerda Machado.
Amigo intimo de Jorge Sampaio, foi proposto por este para Procurador Geral da República em 2005. O Governo de Sócrates, que queria o ex-director do SIS Rui Pereira no lugar, acabou por escolher Pinto Monteiro. Magalhães e Silva não esconde hoje que gostava de ter ocupado o lugar.
Na entrevista referida ao Público, Magalhães e Silva também diz que gostava de ter sido governador de Macau. Não é a primeira vez que o confessa.
Durante a crise política de 2004, quando Durão Barroso aceitou o cargo para presidente da Comissão Europeia, Magalhães e Silva foi dos poucos conselheiros de Sampaio que defendeu a nomeação de Santana Lopes para o lugar de primeiro-ministro.
Pertenceu ao escritório de Vera Jardim (que era também de Jorge Sampaio), que sempre agregou muitos causídicos socialistas, entre os quais António Costa.
Recentemente fez uma sociedade de advogados com o colega Tiago Rodrigues Bastos, homem próximo do general Eanes, que chegou a ser deputado do PRD e liderar a organização de juventude do partido, e recentemente conhecido nos media por ser advogado de Armando Vara e do sucateiro Manuel Godinho.