A nova brigada do reumático
Querem manter os ramos do Exército, da Marinha e da Força Aérea e não querem um comando unificado. Então arrasam o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, escrevem cartas, pressionam o Presidente da República e o primeiro-ministro. São ex-chefes militares, com 70 e 80 anos, e parecem a brigada do reumático do século XXI.
No fundo querem manter o país como se fosse um quintal latino-americano na Europa (é na América Latina, que alguns militares ainda mandam). Os serviços divididos por três ramos dão-lhes mais poder porque multiplicam as capelas militares. E, claro, dão-lhes mais empregos. Não lhes interessa que na Europa mais avançada já se tenha feito a unificação dos ramos militares e criado um comando unificado.
Em 1973, a elite militar não quis que a ralé dos milicianos (que consideravam mercenários e não militares) se misturasse na Academia Militar e fizeram o 25 de Abril. Com militares à direita e à esquerda.
Após o 25 de Novembro de 1975, os vencedores protegeram os vencidos porque, afinal, eram todos amigos da Guerra Colonial. O major Tomé, da Polícia Militar, até tinha sido ajudante de campo do general Spínola na Guiné.
Ramalho Eanes até foi testemunha abonatória de Otelo Saraiva de Carvalho no processo FP-25 de Abril, um homem condenado pela justiça por crimes de sangue neste caso judicial e depois amnistiado, muito por pressão da corporação militar.
Foram os militares, com Melo Antunes à cabeça, que branquearam a aventura golpista do PCP no 25 de Novembro de 1975 e o recolocaram no sistema democrático, até hoje. Verdadeiramente são eles os heróis da gerigonça.
Em 1980, os militares não queriam extinguir o Conselho da Revolução e não queriam regressar aos quartéis e ser mandados por civis, como ordenava a Lei de Defesa Nacional de 1982, aprovada por deputados civis na Assembleia da República.
Em 1985, Ramalho Eanes quis criar um partido militar caudilhista, o PRD, que foi apresentado pela sua mulher Manuela Eanes, qual Éva Péron. Era novamente a ideia de ter um quintal latino-americano na Europa.
Andam sempre com o 25 de Abril na boca, quando a revolução tem o tal pecadilho do corporativismo de elite. Querem ser adulados, condecorados, impor a sua ideologia de Abril aos jovens mas o facciosismo, a tentativa de lavagem cerebral, é tanta que geram indiferença e aversão de muitos jovens ao 25 de abril.
De vez em quando, os que mais gostam de ouvir as botas a marchar, dizem que querem fazer um novo 25 de Abril, um novo golpe de Estado, como aconteceu, em 2012, no tempo da troika e do governo de Passos Coelho. Porque, no fundo, continuam saudosistas do poder que tiveram e adoravam recriá-lo. É por isso que hoje assinam cartas e tentam levantar a garimpa contra a reforma de João Gomes Cravinho.