Passos Coelho desmascarado como devoto à troika
Há três anos foi Ângelo Correia, o principal fazedor da carreira política de Passos Coelho, a emitir uma opinião demolidora sobre a postura “além da troika” do ex-primeiro-ministro do PSD, que aplicou o programa de resgate financeiro Hoje foi Paulo Portas.
O ex-líder do CDS/PP e nº 2 do governo de Passos Coelho entre 2011 e 2015 disse domingo no seu habitual comentário na TVI/CNN que “Passos Coelho achava que a troika era um bem virtuoso, já eu achava que era um mal necessário”.
Portas também defendeu que o programa da troika poderia ter sido aplicado com menor “rigidez” do que a aplicada por Passos Coelho. “Não raramente Passos dizia que queria ir além da troika, eu sempre fui reticente quanto a essa expressão”, referiu.
Numa entrevista ao jornal Público em 16 de maio de 2021, Ângelo Correia foi ainda mais duro para Passos Coelho. À pergunta sobre o que não lhe agradou em Passos Coelho, o antigo ministro do PSD diz:
“Não vou falar de questões de natureza pessoal. Todos sabem que o ajudei e apoiei muito para líder do partido. Simplesmente, percebi, e antevia-se, que Passos Coelho iria ser obrigado a aplicar uma política de forte austeridade, de componente neoliberal claramente imposta pela troika e que decorria da acumulação de erros do PS no Governo. A certa altura, a questão que se me colocou foi a de, sabendo que havia a obrigação de Passos Coelho orientar a acção do executivo através da política de austeridade da troika, se ela era apenas da troika ou se tinha elementos de adesão do PSD. E esse problema não era meu, era a percepção genérica da opinião pública. Percebeu-se que a obrigação se tinha transformado em devoção. Por outras palavras, se existia, ou não, uma espécie de síndroma de Estocolmo.”
Portugal, Grécia e Espanha foram três países europeus regastados pela troika (FMI/BCE/Comissão Europeia) entre 2010 e 2011. Já Espanha não se deixou resgatar, tendo ficado célebre um sms do primeiro-ministro Mariano Rajoy, dirigida ao seu ministro das Finanças Luís de Guindos, em Junho de 2012, quando este se preparava para negociar ajudas financeiras à banca: “Lembra-te que somos a quarta potência da Europa. A Espanha não é o Uganda!”.
As políticas de austeridade de Passos Coelho, no âmbito do programa da troika, foram várias vezes chumbadas pelo Tribunal Constitucional por violarem os princípios da igualdade e da proporcionalidade.
A proposta de aumento da TSU para os trabalhadores e reformados em 2012, defendida por Passos Coelho, deu origem a uma das maiores manifestações de protesto pós-25 de Abril, juntando mais de 500 mil pessoas em Lisboa. A insistência no aumento da TSU em 2013 também causou uma crise governamental com o CDS, tendo o seu líder Paulo Portas, apresentado a sua demissão.
Passos Coelho rejeitou em 2011 o PEC IV apresentado em 2011 na Assembleia da República pelo governo de José Sócrates, o que levou à intervenção da troika no país.