“Pedi ao PCP e à Intersindical para desmobilizaram no 25 de Novembro”
Francisco Costa Gomes, ex-presidente da República, conta que convocou o PCP e a Intersindical para uma reunião no Palácio de Belém a 25 de Novembro de 1975, data do golpe dos militares de esquerda do MFA, exigindo-lhe que desmobilizassem os milhares de apoiantes seus armados, sob pena de uma confrontação, que levaria o país à guerra civil. Costa Gomes fez este relato numa entrevista publicada no livro “Abril nos quartéis de Novembro”, da autoria de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, editado pela Bertrand em 1979. O Objectivo publica extractos da entrevista:
“Eu acho que no 25 de Novembro houve dois elementos que até aqui não foram suficientemente apreciados: a acção do PCP e a acção da Intersindical. Se o PCP e a Intersindical não tivessem desmobilizado as populações que estavam à volta dos quartéis, talvez o 25 de Novembro tivesse degenerado em guerra civil.
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Chamei-os… eu chamei-os [no dia 25 de Novembro]. Quando soube que havia populações à volta dos quartéis (por exemplo, do Ralis e do quartel dos Comandos). Na Amadora estiveram quase a bloquear a saída dos Comandos. Quem desbloqueou essa situação foi a Intersindical e o PCP, tanto na Amadora como no Ralis e na Outra Banda.
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Disse-lhes que a coisa não levava a nada. Que as tropas estavam dispostas a obedecer aos comandos militares e particularmente a mim. Que se eles persis- tissem e se houvesse oposição à saída das tropas, naturalmente teríamos que ir para uma confrontação, que levaria à guerra civil e ao sacrifício de uma quantidade de vidas.
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Mandei um oficial da minha confiança observar o que se passava à volta do Ralis. Ele veio e disse-me: ‘Meu general, a situação é muito grave. Porque há lá muita gente que parece muito circunspecta, mas estão todos armados”
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‘Estão todos de sobretudo ou gabardina, mas têm um pau a sair…’ (Eram as espingardas)”